Estelionato eleitoral na eleição de Natal

Marcus Ottoni (jornalista)


  A construção de uma chapa majoritária, não apenas na eleição presidencial, mas em todos os níveis da disputa eleitoral republicana brasileira é uma arquitetura de interesses e oportunidades. No caso da eleição deste ano em Natal temos um bom exemplo de interesse pessoal e político alicerçado pela oportunidade da conquista de forma “indireta” de um mandato como gestor da capital do Rio Grande do Norte. O resultado dessa "alquimia política" é o estelionato eleitoral.

  O atual prefeito Carlos Eduardo Alves (PDT) disputa sua reeleição visando a eleição de 2018 para o governo do Estado numa refrega política com seu antigo colega de Assembleia e hoje governador do Rio Grande do Norte, Ronbison Faria (PSD). É bem sabido que com o afastamento da presidente Dilma (PT), cujo partido do prefeito é considerado um “cão de guarda fiel” do lulopetismo, e a efetivação legal do presidente interino Michel Temer (PMDB), cujo partido do governador tem cadeira cativa no primeiro escalão, a disputa estará desequilibrada para o prefeito quando chegar a campanha para o Governo.

   Diante dessa realidade surge o acasalamento do interesse com a oportunidade fazendo do projeto de reeleição de Carlos Eduardo uma estrada convergente de acordos e imposições para tentar equilibrar o jogo em 2018, se não a favor do prefeito, pelo menos para neutralizar a vantagem do governador que se posicionou, junto com seu partido, a favor do impeachment da Dilma, diferente do prefeito do PDT que continuou como se partido e filiados fiéis ao lulopetismo apoiando toda sorte de irregularidades cometidas pelo governo Lula e Dilma nos últimos 13 anos.

   A inclusão de um peemedebista na chapa majoritária de Carlos Eduardo tem dois fatores de destaque que saltam aos olhos e criam a oportunidade para um e vai de encontro ao interesse pessoal e político do outro. Para disputar o governo do Estado daqui a dois anos, renunciando ao mandato de prefeito de Natal no início de 2018, Carlos Eduardo precisa deixar em sua giroflex no Palácio Felipe Camarão alguém de sua confiança e que reze na cartilha do primo Henrique Alves, um político influente junto ao presidente Michel Temer e que foi derrotado pelo atual governador na eleição de 2014. Dois pontos importantes para serem levados em consideração na hora de renunciar ao mandato em 2018 e na construção da chapa de reeleição do prefeito de Natal agora em 2016.

   Desta forma, o interesse pessoal e político do prefeito Carlos Eduardo Alves se associa a oportunidade do primo Henrique Alves em controlar a prefeitura da capital por longos três anos sem ter recebido um voto para isso. Muito embora, o candidato a vice-prefeito, Álvaro Dias, seja merecedor dos votos que o eleitor natalense der para reeleger o atual prefeito. Assim, Carlos Eduardo terá a prefeitura de Natal sob o controle da família, aparelhada para a campanha ao governo do Estado e sob o comando de alguém em quem o primo Henrique Alves confia cegamente e, ele também.

  Por conta disso o eleitor da capital do Estado pode estar preste a sofrer um estelionato eleitoral votando no prefeito Carlos Eduardo Alves para governar a cidade por quatro anos, mas garantindo, com sua renúncia ao cargo em 2018, um mandato de três anos para o primo Henrique Alves (via Álvaro Dias) na prefeitura de Natal, cargo para o qual sempre foi rejeitado pelo voto dos natalenses.


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