Carta aberta ao senador Cristovam Buarque
“Prezado senador Cristovam Buarque
Meu respeito, minha admiração.
Sempre o tive, e ainda o tenho e o terei, em grande conceito
moral. Minha admiração pelo senhor é fruto do seu histórico de vida pública na
qual identifico seriedade, coerência e lealdade com suas convicções
democráticas e sua luta por um Brasil mais justo, igualitário, prospero e,
acima de tudo, educado e consciente do seu papel no mundo contemporâneo.
Tenho, ao longo dos últimos anos, acompanhado sua trajetória
política e sua escalada partidária que o trouxe do Partido dos Trabalhadores
até o Partido Popular Socialista, com passagem pelo Partido Democrático
Trabalhista. Nestas três agremiações políticas sempre o vi na vanguarda do
pensamento coletivo propondo uma educação de qualidade em todo o processo
educativo do povo brasileiro e que se tornou sua identidade nacional como
político e homem público.
Há de se destacar sempre seu comportamento ponderado e sua
inteligência na construção dos debates, mesmo nos mais duros embates com
adversários, ou no silêncio das deslealdades e agressões que os menos providos
de civilidade lhe dirigem como a querer com palavras e atos insanos e
inconsequentes realinhar sua postura democrática e suas convicções socialistas,
tão bem expostas, não apenas em seus discursos, artigos, mas sobre tudo nas
narrativas políticas.
Tenho, mesmo sem ter procuração do senhor, o defendido dos
vendilhões da consciência que assaltam as redes sociais com verbetes promíscuos
e adjetivos desconexos na vã tentativa de macular sua honra e enlamear sua
história de homem público e senador da República. A bem da verdade tenho feito
sua defesa com minhas humildes colocações, mas com grande apreço pela obra de
sua vida pública e pelo homem sábio que é o senhor.
Entretanto, ilustre senador Cristovam Buarque, a vida nos
reserva surpresas um pouco desagradáveis e, até incompreensíveis. Também nos
surpreende posições e posturas que nos remetem a analises mais focadas de como
um homem público pode, em um único momento, cometer um deslize de proporções
impensáveis para quem, ao longo dos anos, ensinou e cobrou o respeito às leis e
o cumprimento inarredável dos ditames da Constituição Federal, pela qual todo
homem público jura defender e cumprir.
Confesso que fiquei surpreso ao ouvi-lo pedir o fatiamento
de um artigo da Constituição para beneficiar uma presidente em seu processo de
impedimento no Senado Federal. Mais surpreso e incrédulo fiquei ao ver que a
manobra havia sido perpetrada com seu apoio e voto. Como se diz lá nas Gerais,
não se morde e assopra a mesma vítima. Para a presidente cassada com seu voto
não cabia a benevolência daqueles que guilhotinaram seu mandato. A ela, como a
todos nós, cabe à aplicação da lei em toda sua extensão. Cassar e manter os
direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff é, na verdade, o verdadeiro
golpe do processo de impedimento e a maior agressão ao povo brasileiro.
O episódio revelou-me um lado do homem público que eu
acreditava não existir em políticos da sua estatura moral: o vacilo
político-sentimental. Um comportamento que certamente não maculará sua história
de homem público, mas que certamente jamais sairá da lembrança daqueles que o
respeita, admira e o defende como senador da República, um dos membros do
seleto grupo de políticos brasileiros que pautam suas vidas pela ética, honestidade
e lealdade, ao povo do Brasil e a Constituição Federal.
Um forte abraço.
Saudações Socialistas
Marcus Ottoni”
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