"Diretas Já!" ou "Reforma Política Já!"
(Marcus Ottoni - jornalista)
De que adianta antecipar a eleição para presidente, mantendo
as mesmas regras, com os mesmos agentes políticos, partidos denunciados em
crimes de corrupção, privilégios partidários e desigualdade nas veiculações da
propaganda eleitoral? De que adianta? Apenas atenderia uma parcela da sociedade
brasileira e não a toda a população que quer faxinar a política nacional
estabelecendo um novo ciclo na atividade, com uma nova visão de todo o processo
eleitoral.
De que adiantaria irmos às urnas no próximo ano para eleger
um novo presidente e manter o mesmo Congresso Nacional, os mesmos governadores,
os mesmos deputados estaduais, os mesmos prefeitos e os mesmo vereadores? Isso
numa eleição regida por uma lei totalmente inapropriada que garante privilégios
para alguns partidos políticos, discrimina candidaturas, estabelece vantagens
para poderosos e é cheia de armadilhas que confundem o eleitor e premia
candidatos inexpressivos com mandatos por causa da votação de outros, da
legenda ou não. Além disso, transforma um direito democrático do povo
brasileiro em dever com punição constitucional obrigando o cidadão a participar
da eleição. De que adianta?
Antecipar a eleição de presidente da República por causa do
afastamento da ex-presidente Dilma é mais um daqueles momentos de exceção onde
o jeitinho para agradar parte da sociedade se torna um remédio amargo ou um
remendo mal costurado em uma colcha de retalhos super emendada. Se olharmos
como uma estratégia para recuperar, junto a sociedade, o prestígio político
perdido em meio a tantos escândalos de corrupção envolvendo o PT e seus aliados
(inclusive o PMDB), ou como forma para tentar desestabilizar o atual governo, pode
até soar normal e oportuno a narrativa do “Diretas Já!”.
O que o Brasil precisa e cobra da classe política não é o
oportunismo da retórica ou um arranjo desajustado de um processo que tem como
foco o futuro da nação e seu processo de avanço em conquistas sociais,
desenvolvimento, geração de emprego e renda, retomada do crescimento econômico
e, acima de tudo, afirmação do regime democrático com fortalecimento das
instituições e a garantia dos direitos constitucionais de todos os brasileiros
com a igualdade perante as Leis e a Justiça, mas sim o ordenamento do processo
eleitoral com clareza e sem as “entrelinhas” da legislação atual que rege as
eleições.
Para isso, é necessário que se debruce sobre uma ampla
reforma política eleitoral que produza uma legislação duradoura para as
eleições e que passe pela unificação das eleições estabelecendo uma única data para
eleições gerais (vereador à presidente da República), mais justa, sem
distorções, sem privilégios partidários, sem o instrumento do coeficiente
eleitoral, sem coligações e que garanta ao eleitor o direito democrático de não
votar caso seja sua vontade sem que isso lhe cause qualquer tipo de sanção.
“Diretas Já!” foi um dos movimentos mais importantes já
vividos por esse país em seu processo de redemocratização. Quem o viveu sabe de
sua importância para o Brasil. Por isso, um novo “Diretas Já!” não tem sentido
se for apenas para aplacar a ira revoltosa daqueles que foram apeados
constitucionalmente do Poder. Talvez o mais correto nessa narrativa da oposição
atual ao governo do Brasil seja mesmo “Reforma Política Já!”, com eleições
gerais em 2018 regida por uma nova legislação que traga em seu primeiro artigo
que a eleição é facultativa.
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