Carta Aberta ao Governador Robinson Faria

(Marcus Ottoni – jornalista)

  Senhor governador,
  Acredito que apenas o senhor não quer enxergar que o seu governo já chegou ao final, numa das mais melancólicas gestões do Rio Grande do Norte. Não sei como o classifico nesse momento em que a omissão, a inércia e a incompetência de seu governo deixa exposto a fragilidade da segurança pública proposta por um político que se autodenominou como “governador da segurança”, e que no apagar das luzes da sua administração lhe incorpora a alcunha de “governador da insegurança”.
  O desfile de secretários estaduais na área da segurança pública e as inúmeras promessas repetidas e redesenhadas ao longo dos últimos três anos para conter o avanço da criminalidade sobre a sociedade, passaram a fazer parte do anedotário potiguar colocando-lhe um enorme nariz de madeira pela recorrência das situações que fazem das cidades potiguares palco de ações terroristas e criminosas, impondo terror e medo aos pais de família e seus familiares, assustados e desprotegidos porque seu governo não consegue tirar a bunda das giroflexs confortáveis dos gabinetes palacianos, cuja manutenção sai do bolso de cada trabalhador honesto desse estado.
  O senhor tem consciência de que qualquer outra medida para resgatar o desenvolvimento do Rio Grande do Norte não está desassociada da segurança pública? Tudo o que se fizer em outras áreas, como turismo, infra-estrutura, atração de indústrias, etc, será em vão se não houver em todo o estado a segurança necessária e fundamental para que empresas abram suas portas e contratem mais funcionários; para que turistas visitem o estado e divulguem nossas atrações turísticas ao voltarem para seus locais de origem; para que se possa ter o direito de ir e vir sem o temor de ficar pelo meio da estrada ou num um ônibus assaltado vendo nas soleiras das portas vidas escorrendo por caminhos de sangue de uma bala perdida; para que os cidadãos e cidadãs possam comprar e preservar bens materiais adquiridos com o suor de seus trabalhos; para que mães de famílias não chorem seus filhos na hora em que deveriam regressar ao lar vivo e os recebem em caixões como defuntos de marginais que agem impunemente pela cidade; e para que todos nós possamos viver em paz.
  E o que o senhor faz?  A cada crise troca o secretário, elabora um novo projeto de segurança para o estado e, alguns meses depois, tudo continua como antes e tudo acontece de novo, tal qual o “recall” da omissão permanente. Segurança pública não é apenas colocar policiais nas ruas, comprar carros modernos, adquirir armamentos e equipamentos para a tropa, aumentar o efetivo ou monitorar eletronicamente as ruas e praças das cidades. Não senhor governador, segurança pública é muito mais. É conhecer o jogo que está sendo jogado e saber quais as pedras mexer para não ser pego num xeque mate e desastrosamente colocar o jogo na mão dos criminosos com a esfarrapada desculpa de que “falta verba” para combater a criminalidade. Não senhor governador, essa piada o senhor vem contando nos últimos anos e já está gasta e desgastada pela recorrência da incompetência da gestão que o senhor comanda.
  Se o senhor não consegue ver a realidade, é melhor o senhor “jogar o boné” e deixar que alguém que saiba que a questão da segurança pública não é um filme de mocinhos e bandidos com final feliz. É uma guerra, senhor governador. Uma guerra onde o estado e a sociedade estão perdendo e, a cada dia, os criminosos vão ocupando mais espaços e se fortalecendo porque para o senhor o melhor programa de segurança pública é a ineficaz “ronda cidadão” que nada contribui para reduzir o crime nas cidades potiguares. Uma balela de campanha eleitoral que produziu apenas imagens e discursos, nada mais.
  O crime vai estendendo seus domínios por todo o estado, aliciando cada vez mais jovens e aumentando seu poder de mando e comando e ampliando seus territórios e suas ações marginais. São bem informados e bem armados. São inteligentes e astutos. Tem comando e disciplina. São doutrinadores e aliciadores. São organizados e preparados para qualquer confronto. São violentos e sanguinários. E o Estado, o que é? A meretriz que a todos se dá sem pudor, que faz “ouvidos de cigana”, mas deita e rola com quem melhor a agrada? O que é o Estado, senhor governador?
  O homem público entra para a história como estadista ou como irresponsável. Como estadista sabe conjugar o verbo no coletivo e mira suas ações no bem estar da sociedade visualizando saídas para as crises que enfrenta, sejam quais forem sem perder o foco no amanhã e no desenvolvimento. Para isso, tem que ter o desprendimento pessoal necessário para exercer a função pública e saber que o mais importante na vida de um homem público não é seu ego, e sim o entendimento de que é uma ferramenta de promoção do bem coletivo, o que inclui a segurança da sociedade e o combate a criminalidade até sua total extinção.
  Como irresponsável, passa para a história por ações covardes e recorrentes sem qualquer efeito positivo sobre qualquer crise ou adversidade. Não consegue conjugar verbos no plural e suas ações têm como objetivo “acariciar o ego” e refletir elogios fúteis de inúteis que mantém ao seu redor apenas para isso: rasgar seda para o Rei. O gestor irresponsável não pensa no futuro da sociedade e sim no seu próprio como a cultuar uma esfinge com pés de barro que ruirá quando o solo tremer. Não tem capacidade gerencial e se desculpa de tudo e para tudo com a falta de recursos porque não é criativo ou inteligente o suficiente para encontrar soluções para resolver problemas dos mais simples aos mais complexos. É repetitivo e inconseqüente. É imaturo e omisso. É covarde e maquiavélico. É boçal e sem qualquer serventia para o povo. Como a história o lembrará, senhor governador?
  Acredito, senhor governador, que seu projeto de gestão é um fiasco e que terminou antes mesmo de acabar o mandato. Sugiro que passe suas noites lendo Arquimedes Pouchart, deitado numa rede a beira mar bebericando um bom Logan de safra especial. Pode até não ajudá-lo a resolver o problema da segurança pública no Rio Grande do Norte, mas vai fazê-lo ocupar o tempo com uma boa leitura enquanto os dias passam até chegar o momento em que entregará a faixa de governador do Rio Grande do Norte para outro político. Quem sabe o senhor descubra que enquanto brinca de gato e rato com os criminosos, trocando os guisos no pescoço dos felinos, a vitória sobre o crime organizado vai se tornando impossível. Quem sabe o senhor decida entrar na guerra como deve agir um verdadeiro estadista.
  Quem sabe...

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