A saga do "politicuzinho" neutótico - II

Capitulo II

Quando a velha rural cor de verde desbotado misturado com lama por toda parte parou na porta da casa de Cudeiflor Mimosa, seu coração acelerou e quase saiu pela boca. Sem perceber, rezou uma Ave-Maria silenciosamente enquanto seus olhos acompanhavam apreensivos o desembarque do marido, totalmente embriagado. A camisa desabotoada até o umbigo, o cinto da calça e o ziper abertos davam a nítida idéia de como fora a farra de Borborto Flantas nos últimos dois dias e nas duas noites em que passara fora de casa. Com os olhos vermelhos, babando uma gosma amarelada, com os cabelos despenteados e um sorriso demoníaco no rosto, o truculento funcionário da Canasa do Brasil começou a caminhar em direção a porta onde Cudeiflor rezava baixinho. Ela pedia para que Ave Tirano não despertasse. Pedia para que tudo fosse muito rápido e que o sono e o cansaço da farra derrubassem logo seu marido e tornasse tudo menos doloroso e angustiante. Enquanto Borborto Flantas ia se aproximando da porta, ela respirava fundo pronta para aceitar mais um castigo, mais uma humilhação, mais uma sessão de pancadaria, de tortura psicológica e a desmoralização de sua condição de mulher, mãe e esposa. Com os olhos fechados e rezando baixo, Cudeiflor Mimosa não viu quando a porta se abriu violentamente e a silhueta de Borborto Flantas ocupou todo o espaço da luz do sol que entrava cautelosamente pela porta. Ele parecia um gigante enlouquecido. Ela abriu os olhos e viu o ódio estampado na cara de seu marido. Tremeu mas manteve a dignidade. Fitou-o nos olhos e, com o olhar implorou para que naquela manhã não houvesse brutalidades nem gritos, nem chingamentos, nem humilhação. Tudo em vão. O prazer de estar em casa para Borborto Flantas era por poder humilhar e espancar a mãe de seu filho. Isso o enchia de valentia. Principalmente depois de dois dias e duas noites enchendo a cara de cachaça e rodeado de prostitutas que lhe tiravam um boa parte do salário. Ele adorava esse cenário. Adorava  o cheiro de medo que Cudeiflor Mimosa exalava na sua presença. Ele amava desmoralizar a mulher que lhe dera um filho homem, inocente de todos os pecados do pai, mas sangue daquele sangue inumano que corria nas veias de Borborto Flantas e que, numa alquimia com a cachaça, o transformava no monstro alucinado por maltratar os seus semelhantes mais próximos. A última coisa que os olhos de Cudeiflor Mimosa viram naquela manhã foi a mão enorme de Borborto Flantas vindo em direção a seu rosto e explodindo de encontro a sua face. Foram uma, duas, três, quatro... e tantas outras porradas que ela não aguentou. Caiu desmaiada com o sangue escocrrendo pelos cantos dos lábios. E assim ficou. Borborto Flantas passou por cima do corpo de Cudeiflor Mimosa caído na sala da casa e cuspiu na esposa um cuspe nogento com fedor de cachaça e beijo de prostituta. Subiu até o quarto de Ave Tirano que dormia.  Olhou o menino com desdém, segurou o penis por cima da calça, balançou e rogou uma praga endiabrada para o menino. Gargalhou ao deixar o quarto de Ave Tirano e sumiu no seu próprio quarto onde jogou-se fedendo a cachaça, prostitutas, cigarro e suor na cama preparada por Cudeiflor Mimosa, a mesma que ela dormia sozinha e muitas vezes ao lado daquele que a tratava pior do que a um animal peçonhento. Roncou. Ave Tirano não se mexia, estava imóvel como a dormir. Mas ouvira tudo, desde a chegada da velha rural até o xingamento do pai na porta de seu quarto, passando pelas porradas em sua mãe e a queda do corpo inerte de Cudeiflor Mimosa no chão da sala. Queria levantar para ver sua mãe. Mas o medo do pai o prendia na cama. Odiou-se pela covardia tão precoce. Uma lágrima deslizou pelo rosto do pequeno Ave Tirano.
 
(continua na próxima semana)

Comentários

  1. Sr Marcus
    Represento uma protudora de vídeos de mini séries para televisão. Algumas de nossas produções já foram exibidas pela TV Globo, TV Cultura e Sistema Brasileiro deTelevisão (SBT) e algumas emissoras da América Latina.
    O objetivo desse email é saber se o conto que o senhor posta em capítulos neste blog (A saga ...) já está cocluído. Caso esteja, nos interessa conhecê-lo para talvez transformar em mini série. Isto é, caso haja vontade de sua parte.
    Sem mais, aguardo resposta.
    Patricia

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