A saga do politicuzinho neutótico (V)

Capítulo V

Durante muito tempo, Berezio Borrabosta foi o “puxa-saco”, no mais profundo significado da expressão, do barão-mor da terra do líquido branco, viscoso e perigoso. Viveu sob a égide do baronato com a mesma serventia dos antigos escravos da favela de pau e barro que cresceu na cercanias da casa alva do barão e sua troupe familiar.
Berezio Borrabosta jamais pensou em sair das barras da saia do barão, porque ali comia, bebia, dormia, ria e confundia suas idas solitárias ao matagal com as investidas noturnas do barão que vez por outra, após sorver alguns copos do líquido viscoso e perigoso, adorava fazer em Berezio Borrabosta, a menina que não existia em sua vida, mas que povoava seus sonhos luxurientos toda vez que o tal líquido subia, em forma de efervesente água quente ao cérebro do dono das terras, da casa alva, dos homens e dos “puxas-saco” como Beresio, cujo cacoete era chamar todo mundo de bicho, colocando apelido com nome de aminal em todas as pessoas que conhecia. Era bicho pra cá, bicho pra lá...
Mas a farra acabou. Tudo diluiu-se como o líquido que desaparece ao ser sorvido pelas bocas podres nas casas alvas, nos bares, nas budegas e nas orgias tresloucadas. Sumiu, como some o sol no entardecer. Assim, Beresio Borrabosta se viu só, sem o barão a lhe dar apoio  no serviço e, também, nas noites de verão quando a lua parece um sol a queimar a escuridão do matagal. Ficou um bom tempo a meditar sobre seu futuro. Sobre sua nova realidade. E gastou tempo nisso. Horas, dias, meses e até quase um ano. Até que se deu conta de que agora era tudo por sua conta e risco.
Decidiu então procurar Baiana Boqueiros, uma loira esfuziante, com quadris de égua e cerebro de formiga. Peitos de ama-de-leite e cintura de pilão. Uma estonteante figura feminina que endoidava qualquer macho perdido no trabalho, e apenas no trabalho, por mais de 15 dias. Era química pura a proximidade com Baiana Boqueiros. Parecia que o mundo explodia e nada ficava como antes depois que a loira “botava pra torar”. E Beresio Borrobosta foi atrás da “diaba ensandecida”, apelido que a loira ganhara no reino do baronato.
O projeto era simples e a conversa seria direta e objetiva. Assim pensava Beresio caminhando em direção ao “muquifo” da Baiana Boqueiros. Andou por mais de meia hora até que chegou na casa procurada. Estava tudo escuro, não havia qualquer sinal de uma viva alma. Nem mesmo uma lamparina de óleo estava acessa. Estranho, achou Beresio. Mas decidido como estava, bateu na madeira da porta. Uma, duas, três, quatro... dez vezes e nada. Pensou em ir embora, voltar para sua casa e retornar outro dia, durante o dia, com a luz do sol a clarear o caminho e a iluminar a casa da loira. Virou-se e deu dois passos. Uma voz surgiu do nada.
-Onde pensa que vai? – perguntou a voz com ar de autoridade.
Beresio virou-se e viu Baiana Boqueiros em pé no umbral da porta. Um monumento! Aquela figura quartuda, com poucos panos a lhe cobrir as partes e com um sorriso maroto deixado nos lábios escondidos por uma parte da cabeleira amarelada que caía por sobre o rosto da loira endiabrada. Ela tinha na mão um enorme cacetete de madeira que batia suavemente na perna, num ritmo compasado.
- Venha logo! – quase gritou Baiana Boqueiros para Beresio Borrabosta. 
Ele obedeceu e ambos sumiram casa à dentro na escuridão da noite e da própria moradia. A porta se fechou e o que se ouviu depois foram os gritos de prazer de Beresio ecoando pelo ar do matagal. Dizem as más linguas do local que em determinadas noites, Baiana Boqueiros virava bicho homem (e aí não era apelido posto por Beresio, não) e sodomizava seus visitantes com práticas sexuais não muito ortodoxas. Ave Tirano sabia muito bem disso. O comentário é que foi ele quem induziu Beresio Borrabosta a experimentar as “manias” de Baiana Boqueiros.

(Continua na próxima semana)

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