MAIS MÉDICOS, A MESMA SAÚDE

(Marcus Ottoni)
   Discutir o programa do Governo Federal “Mais Médicos” apenas pela ótica da “invasão estrangeira” de profissionais qualificados ou não, é promover um debate estéril sem que a causa fundamental geradora do caos na saúde pública brasileira seja efetivamente combatida e que o problema, enfim, caminhe para uma solução, se não em curto prazo, pelo menos num período de transição e adaptação das soluções definitivas para o sistema público de saúde do Brasil.
  Ancorar uma solução paliativa com todas as características de “programa caça votos”, é uma estratégia que cai bem num governo que se exime das responsabilidades com o bem-estar coletivo, não promovendo políticas públicas de real alcance social, realizando apenas uma ação pontual com foco na próxima eleição. Torna-se claro o objetivo do programa “Mais Médicos”, que traz encruado no seu arcabouço o joguete maniqueísta do bem e do mal, colocando o Governo Federal como a “chapeuzinho vermelho” e os médicos brasileiros como o “lobo mau” na crise da saúde pública. 
   A estratégia político eleitoral fica mais nítida quando o Governo insiste em jogar lenha na fogueira mobilizando seus franco atiradores nas redes sociais com uma campanha que busca mascarar a realidade da privatização e da desestruturação do Sistema Único de Saúde (SUS), pontuando o problema da falta de profissionais médicos em regiões brasileiras de difícil acesso, para o que se utiliza de postagens contra todas as fobias em moda no país, com destaque para a “homo”, a “xeno” e a mais recente, a “petralhafobia”.
   O problema da saúde pública brasileira não reside na falta de médicos para atender a população mais carente nas áreas periféricas das grandes cidades ou nos interiores mais distantes dos centros urbanos desenvolvidos. Também não está na carência de recursos para assistir e promover saúde para o povo brasileiro: gratuita, universal e de qualidade. O caos na saúde tem sua causa na incompetência e irresponsabilidade da gestão, principalmente na esfera federal que se exime da responsabilidade de gestor federativo.
A incompetência e a irresponsabilidade na gestão da saúde pública brasileira também não é fruto de qualquer mecanismo administrativo que impeça, legalmente, a promoção de uma eficaz e competente gestão nessa área. Ela tem sua raiz fincada na corrupção com todos seus matizes: financeiro, político, eleitoral, etc.. Aí nasce o caos na saúde pública brasileira que, acabrunhada na UTI, clama por uma solução que não seja meramente eleitoreira com viés ilusionista de solução definitiva para o problema que se arrasta há décadas.
   Um dos caminhos para resolver os problemas da saúde pública brasileira, passa pela federalização do Sistema Único de Saúde (SUS), com o Governo Federal chamando para si à completa gestão do programa, tirando das prefeituras e dos governos estaduais a responsabilidade do gerenciamento das ações de saúde pública em suas regiões. Federalizar a gestão da saúde é um dos caminhos que deve ser adotado pelo Governo Federal se realmente houver interesse em promover um serviço de qualidade para a população do Brasil.
   Porém, não basta apenas e tão somente assumir o controle federativo das ações de saúde no país. Há, ainda e fundamentalmente, o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) - um dos melhores sistemas de saúde do planeta – concluindo sua implantação; proibindo a terceirização das ações de saúde pública; valorizando os profissionais do SUS com a implantação do plano de carreira única com a melhoria salarial; estabelecendo uma política rigorosa de controle e fiscalização, com acompanhamento de entidades da sociedade civil organizada; e, principalmente, recursos garantidos constitucionalmente com aplicação carimbada para incrementar uma política nacional de saúde pública por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), gerenciado pelo Governo da federação como agente de promoção do bem-estar da população brasileira.
   Fora disso, é alterar o título do programa do Governo Federal para “Mais médicos, a mesma saúde”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sinsenat pode ser alvo de investigação por suspeita de desvio de recursos

Gildo da Costa Dantas lança livro sobre os minérios do Rio Grande do Norte

Uma pesquisa de intenção de voto do FSB pesquisa com cheiro podre de fraude