Isonomia previdenciária e o fim dos privilégios da “casta brasileira”

(Marcus Ottoni – jornalista)
  Tirando o espetáculo das barbáries promovidas pelos grupos terroristas encarcerados nos presídios brasileiros nos primeiros dias de janeiro, nada muda no Brasil de Abrantes e tudo fica como antes. O ano político começa com a manutenção dos mesmos nos mesmos cargos do ano passado. Temer na presidência da República; o PMDB na presidência do Congresso Nacional; o Democrata na presidência da Câmara e como substituto imediato do presidente nas suas ausências do país ou licenças eventuais; e o núcleo oposicionista com a mesma e surrada narrativa de sempre.
  Nesse clima o Congresso Nacional deve “pegar fogo” com os debates que serão travados, tanto no Senado, como na Câmara. As reformas propostas pelo Governo Federal são o alvo de todos os parlamentares, cada qual no seu cada qual, e todos defendendo o “pão nosso de cada dia”, não o pão do povo brasileiro, mas o deles. O caldeirão deverá ferver ainda mais com a divulgação oficial, ou com o vazamento seletivo, promovido por sabe-se lá quem, das deleções do pessoal da Odebrecht classificadas pela mídia como “delações explosivas” e que, de acordo com o que se ouve, complica a vida de quase 200 parlamentares de vários partidos por suposto recebimento de gordas propinas do esquema do “Petrolão Petista” do Lula e da Dilma.
 Mas a grande discussão que se avizinha será a da reforma da Previdência Social elaborada pelo governo Temer e que tem arrepiado os cabelos mais escondidos de parlamentares da oposição e vários da situação que estão com um pé no Congresso e um olho em 2018 quando vão tentar a reeleição e precisarão do voto dos trabalhadores que serão atingidos pelas mudanças para a aposentadoria. 
 Não me cabe entrar no mérito do debate, até porque não tenho elementos para estabelecer linhas de opinião própria sobre se o rombo existe ou não, se a idade proposta é ideal ou não, se as mulheres devem ter privilégios e não serem tratadas como os homens (interessante é que nesse caso as feministas de plantão não se posicionam pedindo normas iguais para a isonomia previdenciária), se as mudanças beneficiam os trabalhadores ou não, se, enfim, a Previdência quebra a continuar do jeito que está impossibilitando o pagamento das aposentadorias futuras, ou não.
 Até porque acredito que o problema da aposentadoria dos brasileiros não está unicamente na existência de um déficit estratosférico que compromete o pagamento dos benefícios de quem está e daquele que será aposentado. O problema da Previdência Social no Brasil é a desigualdade nas aposentadorias dos brasileiros. Se por um lado temos um sistema que obriga o trabalhador a dezenas de anos de contribuição e mais outras dezenas de anos de vida para ter direito a uma aposentadoria miserável que nem aos mil reais chega, por outro, temos a aposentadoria da “casta” brasileira onde estão incluídos ex-presidentes, ex-vice-presidentes, ex-governadores, ex-vice-governadores, ex-senadores, ex-deputados federais, ex-deputados estaduais, ex-juízes, desembargadores, ex-promotores, procuradores etc e etc e etc...
 Todo esse povo se aposenta com poucos anos de trabalho, no caso de presidente e vice-presidente, 4 ou 8 anos com reeleição. O mesmo com governadores e vice-governadores. Parlamentares vão na mesma pisada com aposentadorias faraônicas e direitos que são negados aos trabalhadores urbanos e rurais. Juízes e desembargadores quando pegos em desvio de conduta são aposentados compulsoriamente com a integralidade de seus vencimentos. 
 Todo esse pessoal consome bilhões e bilhões de recursos do tesouro anualmente usufruindo de aposentadorias nababescas à custa do sangue, suor e lágrimas do operário, da costureira, do professor, do agricultor, da faxineira, do pedreiro, do contínuo, do motorista, enfim, de todos aqueles que dão duro oito horas por dia, seis dias por semana, 26 dias por mês e anos e anos de trabalho ganhando um salário humilhante, sem direito a saúde, segurança, educação, transporte, lazer e uma vida digna para um cidadão trabalhador que gera a riqueza que paga as milionárias aposentadorias da “casta” da elite brasileira que não é representada apenas pela burguesia nacional, mas também por todos os partidos e políticos com atuação no país, sejam da extrema direita ou da extrema esquerda. 
 Acho que seria interessante nesse momento, quando a reforma da Previdência Social vai levantar o debate no país, mobilizar a sociedade para propor o fim das aposentadorias dos integrantes da “casta” brasileira e dos privilégios incorporados a essas aposentadorias, colocando-os no mesmo nível de todos os brasileiros comuns, trabalhadores e cidadãos sem a mordomia do cargo público. Quem sabe os parlamentares possam ter a coragem e a dignidade de alterar a proposta do governo Temer, criando a isonomia previdenciária para colocar a “casta” nos mesmos níveis do povo do Brasil.

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