Quanto vale um voto na eleição?

(Marcus Ottoni – jornalista)
  Para identificarmos o valor do voto de um cidadão potiguar na eleição, primeiro precisamos desmontar a falácia da importância do voto no regime democrático brasileiro. Voto democrático não é voto obrigatório com punição pela abstenção eleitoral. Voto obrigatório que pune o eleitor pelo não comparecimento na sessão eleitoral deixando, assim, de exercer a determinação da Justiça Eleitoral, não é democrático e nunca o será. Ao contrário, é ditatorial em todos os aspectos da imposição de normas de exceção à sociedade.
  Voto democrático é o voto dado por livre e espontânea vontade pelo eleitor que decide ir votar numa eleição, seja para prefeito e vereador ou para presidente, governador, senador e deputados federal e estadual. Não ir votar é um gesto cidadão e faz parte do exercício pleno da cidadania nos regimes democráticos. Obrigar o eleitor a participar de uma eleição para não sofrer sanções legais é a excrescência dos regimes ditatoriais. E o Brasil, se não me engano, é um dos poucos países no mundo onde o voto é obrigatório.
  Então, votar não é o exercício da democracia no Brasil como dizem os políticos de todos os partidos e de todas as tendências ideológicas. Enganar o povo com esse discursinho falacioso é de que o voto é um direito, virou mantra de uma classe política que tem medo do voto livre e democrático e para isso precisa impor à sociedade a obrigação de votar: voto no Brasil não é direito, é obrigação. A razão é cristalina como água de fonte montanhosa: manter no poder os mesmos de sempre legalizando mandatos por meio do voto obrigatório e corrompido da sociedade.
  Como é obrigação do eleitor ir votar, o voto virou mercadoria de ocasião nos períodos eleitorais, criando mais um viés de corrupção brasileira que a Justiça finge não enxergar, o político-candidato finge que não compra o voto, o eleitor acuado finge que não troca seu voto por alguns míseros reais e o cabo eleitoral finge que não abocanha uma porcentagem dos recursos destinados pelo candidato corrupto para a compra de voto no dia da eleição. Assim fica todo mundo livre da punição de crime eleitoral no teatro do absurdo do voto obrigatório.
  Por que o voto é obrigatório no Brasil?  Se pesquisarmos ao longo de nossa história mais recente, depois da retomada democrática do país com o fim da ditadura militar, a anistia política, eleição direta para presidente, constituinte, impeachment de dois presidentes eleitos, etc, etc, não vamos encontrar nenhum congressista ou partido político que tenha proposto o voto facultativo para o país nas eleições brasileiras, fraccionadas de dois em dois anos (outra excrescência brasileira). Não há qualquer debate sobre o assunto, mas há, e sempre haverá, as mini reformas eleitorais que malabarizam facilidades para o controle partidário nas eleições, beneficiando candidaturas e reforçando o discurso falacioso do direito ao voto do cidadão como exercício da democracia.
  Tirando da listagem eleitoral os senadores que tem mandatos de oito anos, todos os outros cargos eletivos (executivos e legislativos) exercem mandatos de quatro anos cada um. As campanhas são bilionárias não porque necessitem de recursos para o momento ilusionista popular durante as mentirosas propagandas políticas veiculadas nas redes de TV e em emissoras de rádios, ou para as movimentações de rua em comícios, carreatas, etc. Se tornam caras para encobrir o desvio dos recursos arrecadados na compra de votos, via cabos eleitorais, sejam lideranças comunitárias, políticos com mandatos ou gestores públicos municipais que se aboletam de dinheiro para garantir o “livre exercício do voto” pelos mais necessitados, amontoados em currais eleitorais e pagos para votar naquele candidato ou na chapa fechada dos corruptos donos dos recursos distribuídos pelos cabos eleitorais.
  Vamos traduzir o voto do cidadão em números, ou melhor em valores, tomando por base os oito deputados federais do Rio Grande do Norte. Cada um dos parlamentares potiguar recebe, de acordo com o portal “Congresso em Foco”, pouco mais de R$ 168 mil por mês, entre salário, ajuda de custo, auxilio moradia, cotão e verba de gabinete. Os oito deputados do estado consomem mensalmente do dinheiro do contribuinte algo em torno de R$ 1.3440.000,00 (hum milhão trezentos e quarenta e quatro mil reais). Por ano esse dinheirão todo pula para a astronômica quantia de R$ 16.128.000,00 (dezesseis milhões, cento e vinte e oito mil reais). Em quatro anos de mandato, os oito deputados federais do RN recebem dos recursos públicos a bagatela de R$ 64.512.000,00 (sessenta e quatro milhões, quinhentos e doze mil reais). Muito dinheiro para poucas pessoas que não produzem praticamente nada em benefício da população nos 1.460 dias de mandato como deputado federal do RN.
  Dentro dessa ótica e para calcular o valor do voto popular, objeto da análise dessa postagem, podemos concluir, apenas com base na eleição de um deputado federal potiguar, que para sair de casa, enfrentar fila, perder quase o domingo todo, restrições ao consumo de bebida alcoólica e ainda conviver com a cidade suja pela papelada inútil dos candidatos, o eleitor, segundo informações de pessoas envolvidas com eleições, está ganhando muito pouco para votar. O voto para deputado federal no submundo eleitoral está custando algo em torno de R$ 100,00, com variação entre 30 e 50 reais dependendo do grupo social cooptado e da ganância do cabo eleitoral que é quem manuseia os recursos da corrupção eleitoral na compra de votos, tirando uma boa parte para si.
  O valor ideal de um voto para deputado federal no RN, se levarmos em consideração as vantagens do cargo durante os quatro anos, não deveria estar sendo vendido por menos de R$ 500,00, 10% do que recebe um deputado federal por dia (R$ 5.000,00) de recursos do contribuinte, que  é dinheiro do povo, arrecadado via impostos em tudo que o cidadão compra. Nada mais justo do que majorar o valor do voto obrigatório para valorizar o cidadão que vai ajudar o candidato a receber em quatro anos o que o eleitor não ganhará mesmo que tivesse duas ou três vidas. Principalmente se viver mensalmente com um salário mínimo de pouco mais de 900 reais para sustentar sua família, pagar suas contas e os impostos que vão dar boa vida aos políticos que o obrigam a votar para não ser punido pela Justiça Eleitoral.
  Voto democrático é voto facultativo que é dado pela consciência do eleitor e não o voto obrigatório que tem valor financeiro e garante o mandato de políticos corruptos e desonestos. 

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