Quando a renovação ameaça o continuísmo

(Marcus Ottoni – jornalista)
  O que os ditadores encastelados no Poder temem é a renovação, a mudança do perfil gestor da entidade que eles controlam, muitas vezes, há décadas. A renovação coloca em xeque a concepção dos ditadores de que a entidade é propriedade particular e a ele pertence para o resto da vida. A renovação também obriga o ditador de plantão a retomar suas atividades profissionais tirando dele o benefício do salário sem a obrigação de cumprir seu horário de trabalho na empresa ou serviço público.
  Renovar é necessário porque oxigena a entidade e promove a transformação do modelo gestor envelhecido e ultrapassado por uma nova concepção administrativa, mais participativa, mais democrática, mais próxima do verdadeiro interesse do conjunto social que compõe e mantém a entidade em atividade produtiva, interagindo com seus associados de forma contemporânea, globalizada e plural.
  A renovação é uma arma poderosa nas mãos de quem quer transformar sua entidade de classe, não apenas para trocar seus dirigentes, mas para pôr fim a um ciclo que se esgotou pela mesmice das atitudes e ações e por ter se tornado ferramenta de apropriação pessoal daquele que há décadas se mantém no controle da entidade como se dela fosse dono e proprietário eterno, como é comum nas decadentes oligarquias políticas brasileiras.
  Em toda atividade social a renovação é fundamental para acompanhar as mudanças que ocorrem na sociedade globalizada do mundo atual. Renovar é empreender o novo, é construir a ousadia da mudança, é romper o controle individual paternalista e gerar posturas de participação democrática e plural, é desmascarar a velha e surrada retórica dos ditadores de plantão transformando o discurso em prática inclusiva coletiva para quem é realmente o dono da entidade: seus associados.
  O continuísmo dos ditadores de plantão na administração das entidades por longos períodos, décadas e décadas de controle absoluto, gera distorções condenáveis e comportamentos inapropriados nos quesitos lisura, ética e transparência da gestão, porque promiscui as relações internas na entidade, edificando descaminhos inescrupulosos e de interesse escusos com prejuízo para todo o coletivo da categoria representada pela entidade.
  Um bom exemplo da distorção moral causada pela continuidade no Poder são os políticos brasileiros que ao longo da perpetuação de seus mandatos, transformaram a representação popular num festival de corrupção endêmica com reflexos diretos e nefastos para a sociedade do Brasil. A garantia da continuidade no Poder gera impunidade por causa da sensação de propriedade exclusiva e eterna do ditador de plantão. 
  Renovar é oxigenar a atividade social e pluralizar a gestão da entidade com novos debates, novas ideias, novas posturas, ética e transparência real. Pôr um ponto final no continuísmo é o que a sociedade brasileira quer, principalmente onde a continuidade se apresenta como meta de grupos ditatoriais. Continuísmo representa incerteza por mais paradoxal que possa parecer porque traz em seu arcabouço a garantia da impunidade de que a promiscuidade administrativa será a regra e não a exceção, já que o controle absoluto de anos e anos transforma o que era coletivo em pessoal e particular com todas as afinidades e interesses inerentes a uma monarquia familiar e pouco ética.
  Renovar uma gestão com 30 anos de controle total sobre uma entidade não é uma imposição, nem obrigação de qualquer associado. É uma determinação pessoal de cada um e de todo o conjunto de associados que deseja ver sua entidade passada a limpo e de cara nova. Deve nascer dentro de cada um a vontade de dar a sua entidade um novo rumo, uma postura plural, democrática e autêntica. E o crescer do sentimento de renovação fará brotar uma entidade moderna e aberta para toda a categoria, sem os grilhões do continuísmo e a retórica demagógica de quem faz da entidade um puxadinho de seu nababesco patrimônio pessoal. 
  Renovar é preciso, continuismo não vale a pena...

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