O Brasil não é um programa de televisão.
(Marcus Ottoni – jornalista filiado ao PPS/GO)
Eu sempre fui e continuarei a ser um grande admirador do presidente nacional do PPS, Roberto Freire, a quem tenho em respeitável estima pela sua trajetória política ao longo de décadas de atuação como homem público e, principalmente, como representante legítimo da esquerda brasileira. Fui, sou e serei sempre um admirador de Roberto.
Porém o respeito que tenho por ele e por sua militância política, no antigo “Partidão” (PCB) e hoje no PPS, não me exime de critica-lo por posturas que vem adotando ao longo dos últimos dois anos, principalmente quando do movimento popular que levou o país a pedir o fim da era lulopetista com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff e uma nova ordem social e política para o Brasil.
O movimento que nasceu nas ruas e tomou o país, engolindo partidos políticos de todas as tendências, infelizmente não produziu os efeitos desejados na área política, embora tenha conseguido empurrar, ainda que timidamente, a economia para frente tirando o Brasil da recessão e da estagnação econômica deixada pela era petista. E onde entra o presidente do PPS, Roberto Freire no rol das críticas?
Primeiro porque a ideia de atrelar o PPS ao legado do lulopetismo como se fez no governo Itamar Franco após a saída do ex-presidente Collor de Melo, foi um grande equívoco e uma péssima estratégia política do partido tendo o dedo de Roberto na decisão partidária. Participar e envolver-se na derrubada do governo do PT foi fundamental para pôr um fim no descalabro da era petista. Coerência com o discurso e com a postura vanguardista de um partido cuja sua história e de seu presidente sempre estiveram na linha de frente da defesa da democracia e da Constituição. Ponto.
Vitorioso o movimento do “meio impeachment” de Dilma Rousseff, o PPS comete o seu primeiro erro nessa nova fase da política brasileira. Agora já sem o PT no comando, embora o legado lulopetista tenha incrustado na Presidência o peemedebista Temer, cujo histórico nos últimos anos é de conivência e parceria com todo o mal que Lula e Dilma e o PT causaram ao país em uma década e quase meia.
Roberto Freire deveria ter colocado o partido como sigla independente no Congresso Nacional recusando o canto da sereia tucana e afastando-se do governo legado pelo lulopetismo para ter autonomia e independência para caminhar com dignidade no parlamento e na sociedade sem macular a história do PPS. Achar que se repetiria com Temer o que ocorreu com Itamar Franco, foi a ilusão do desastre político e o desatino da ilusão da construção de um governo de transição.
Nunca foi segredo para ninguém que o governo Temer seria bombardeado sem trégua pelos seus ex-aliados, tendo como pelotão de frente os petistas e seus apaniguados instrumentos de manipulação de massas como CUT, UNE, MST entre outros, além é claro dos fiéis escudeiros do PCdoB, PDT e PSoL e os braços jurídicos no Ministério Público Federal na pessoa do então Procurador Geral Rodrigo Janot. Só um inocente inútil acreditaria que a “traição” de Temer ao Lula e ao PT passaria incólume pelo resto de seu curto mandato, quase abortado pelas duas denúncias da PGR.
E mais ainda, o fogo cerrado contra o governo do PMDB, legado pelo PT ao Brasil, respinga e mancha de lama todos que estão ao redor do presidente, principalmente quem o defende e dele usa e abusa com cargos e benefícios pessoais ou partidários. E o PPS foi engolido pela conversa fiada do tucanato nacional de que deveria estar no governo para ajudar a salvar o Brasil e realinha-lo com o desenvolvimento e a superação das crises políticas e econômicas.
Um desastre geral desde que Roberto foi ter com Temer e aceitou o Ministério da Cultura e arrumou para Raul Jungmann o Ministério da Defesa, além de vários cargos espalhados pelos ministérios para filiados e dirigentes do partido em todo o território nacional. Foi convidado, aceitou, recusou, o Ministério da Cultura fechou, reabriu, gerou uma crise e Roberto assumiu, demitiu-se alegando “falta de moral para a continuidade do governo Temer”, debandou-se de volta para o Congresso, mas o PPS manteve Jungmann no "governo sem moral" e todos os segundos escalões nomeados pelo partido nos estados e nos órgãos federais.
O PPS está e não está no governo legado pelo PT ao Brasil e que já demonstrou que, como seu ex-aliado, o PMDB de Temer é tão ou mais pior do que o PT de Lula e Dilma. Vota contra, vota a favor, diz sim e diz não. Morde e assopra. Bate e beija. Não dá para entender a falta de coerência do partido e os vai e volta do presidente nacional do PPS. Diria o carioca mais sarcástico politicamente ao acompanhar o desempenho do partido no governo legado do PT; “é o samba do crioulo doido”.
Agora, mais inacreditável ainda o comportamento do presidente nacional do PPS ao “estender um tapete vermelho” para um apresentador de televisão da rede Globo, burguês e capitalista, sem qualquer histórico de atuação política no país, mas com possibilidades de se tornar o candidato a presidente do Brasil pelo PPS. E, segundo Freire, o PPS está entusiasmado com a possibilidade de ter o tal do Luciano Huck como seu candidato a presidente. Ora bolas, o que é isso companheiro?
O partido que tem um senador como Cristovam Buarque não pode se dar a mesquinhez de buscar num “showman” seu candidato a presidente do Brasil. Se isso não é uma piada de mal gosto do presidente Roberto Freire, é a total certeza de que o PPS deixou de ser uma partido coerente e sério para se tornar em mais picadeiro político do país. O partido não tem o direito de colocar outra candidatura que não a de Cristovam Buarque para disputar a presidência da República em 2018. Achar que o “showman global” se transformará num fenômeno porque surgiu diante do “imponderável” e que os brasileiros não querem mais “os mesmos”, é, sem dúvida, jogar na lata do lixo da história a própria história pessoal e a trajetória honrosa do PPS.
Cristovam é a resistência moral do Brasil e como tal deve ser respeitado. Trocar um senador da estirpe de Cristovam Buarque por um “showman” é, no mínimo, falta de respeito com a sociedade brasileira que quer ver o Brasil melhor. De Collor de Melo basta um, nós sabemos no que deu. O Brasil não é um programa de TV, Roberto Freire. O Brasil que ao longo de sua vida você defendeu com garra e coragem não precisa de um “filhote da Globo” para fazer de vocês marionetes de uma emissora que destrói a família e os valores da sociedade brasileira.
O Brasil precisa, Roberto Freire, de homens como Cristovam Buarque e de partidos fortes e representativos. Não de uma legenda que se deslumbra com “showman” globais e se transforma em picadeiro de ilusões.
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