Um Rio Grande sem sorte

(Marcus Ottoni – jornalista)
  Mais um ano com copa do mundo e eleição. Como não poderá deixar de ser, o Rio Grande do Norte vai assistir ao desfile da mesmice política num mix de torcida de futebol dividida entre os cordões azul e vermelho em permanente guerra de interesses pessoais e partidários. Mas nada que coloque o estado como prioridade de uma nova ordem política operando a transformação econômica e social que o estado precisa para deixar de ser um Rio Grande sem sorte. 
  Não precisamos voltar muito no tempo para saber que o que está por vir é o mesmo que esteve no palco eleitoral há pouco mais de três anos e cujo histórico envergonha a sociedade mais consciente, além de reforçar a máxima de que os ídolos ainda são os mesmos de nossos pais e não valem nada. Nada mais propício para o estado onde a política é predatória e os reflexos do uso da máquina pública atingem negativamente a sociedade penalizando a população pelos descaminhos de gestões inescrupulosas, demagógicas e personalizadas criminosamente.
  A obrigatoriedade de candidaturas filiadas a partidos contribui grandemente para a manutenção de famílias no poder, já que o partido se torna uma capitania hereditária e os mandatos passam a ser reserva de mercado familiar em todos poderes eletivos da República. Além disso, essa “obrigação” em nada tem a ver com democracia. Muito pelo contrário, mas plenamente justificável num país onde o voto é uma obrigação e não um direito que pode ou não ser exercido. 
  Famílias que controlam partidos definem as listas de candidatos que deverão disputar eleições e que estarão sempre sujeitos e submissos as vontades do “dono do partido” que, ou será o candidato majoritário, ou algum parente ocupará esse cargo na disputa eleitoral. Esse controle impede o surgimento de novas lideranças, o fortalecimento das legendas e a expansão partidária porque inibe o exercício democrático saudável e positivo para a atividade política.
  Se pegarmos como exemplo a eleição de 2014 para o governo do Rio Grande do Norte vamos relembrar uma disputa sem novidades e com os mesmos atores políticos que protagonizam os mesmos espetáculos, se não todos de quatro em quatro anos, mas alguns de dois em dois anos. 2014 mostrou, entre outras coisas lamentáveis, que o Rio Grande do Norte não tem sorte quando o assunto é eleição majoritária (e proporcional também) já que os candidatos pouco interesse demonstram em transformar a máquina pública para desenvolver o estado e promover a melhoria da vida de todos os potiguares e dos que aqui vivem, trabalham e cuidam de suas famílias.
  A última eleição é o melhor exemplo da falta de sorte do estado nesse quesito. Dos cinco candidatos: Araken Farias (PSL), Henrique Eduardo Alves (PMDB), Professor Robério Paulino (PSOL), Robinson Faria (PSD) e Simone Dutra (PSTU), apenas dois tinham reais condições de governar o Rio Grande do Norte pela experiência malandra da politicanalhagem tupiniquim. Os outros três, caso eleito, sucumbiriam no primeiro ano de gestão tornando—se presa fácil dos deputados estaduais e pouco ou nada conseguiram realizar porque, infelizmente, não tem quadros capacitados para gerenciar um estado garoteado por hordas de políticos inescrupulosos. 
Arakem, Henrique, Robério, Robson e Simone
  Porém, os dois com condições e "experiência política": Henrique Alves e Robson Farias, deu no que deu e tornaram-se exemplos incontestáveis da prática criminosa do uso da máquina pública e da falta de competência para gerenciar crises, principalmente as de viés econômico. Mas pior ainda foi se tornarem, junto com outros políticos do primeiro escalão do Rio Grande do Norte, alvo de operações policiais, da Justiça e do Ministério Público em escândalos de propinagem e rapinagem explícita do dinheiro do contribuinte. Um está na cadeia e por lá deve continuar por um bom tempo. O outro, embora em liberdade, amarga uma desaprovação popular jamais vista em tempo algum na história do estado e aparece em listas negras da Justiça como mentor de esquemas nada republicanos no exercício da atividade política.
  Este ano, tudo irá se repetir. Talvez novos atores das mesmas famílias, mas com velhas práticas eleitorais. A continuidade no poder é o que move esse tipo de político cuja postura durante a campanha eleitoral tem sempre a mesmice do discurso de “salvador da pátria” com todos os problemas resolvidos caso o mequetrefe se eleja e conquiste a giroflex da governadoria. O que já se mostrou uma grande falácia com exemplos recentes como o da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014, e do atual prefeito de Natal, Carlos Alves, em 2016. O que veio depois de eleitos foi o verdadeiro caos penalizando servidores públicos e fornecedores do país e da capital do estado.
  As eleições gerais deste ano colocarão no palco eleitoral algumas múmias políticas recicladas mas com o mesmo discurso demagógico de sempre, apostando no caos social como catalizador de votos e na incapacidade da sociedade em descobrir no mesmo cesto a fruta podre que estraga todas as outras. Deverão desdizer tudo o que disseram há quatro anos negando a responsabilidade pela desordem administrativa atual e a participação no processo de mutilação da máquina pública estadual.
  A responsabilidade do eleitor, como cidadão e agente político, se agiganta porque é dele e por ele que a transformação acontece e, é para ele que se criará uma nova ordem política e social que mudará radicalmente o vetor negativo que insere o Rio Grande do Norte no rol dos estados brasileiros sem alternativa eleitoral para a construção de um estado ético, transparente, justo socialmente e moralmente reconhecido pelos seus representantes eleitos por um povo responsável, trabalhador e, acima de tudo, cansado de tanta bandalheira pela atual classe política.

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