A Lista da Globo e a farsa dos derrotados

(Marcus Ottoni - jornalista)
É estarrecedor! Como um governo militar, vivendo em permanente confronto com terroristas urbanos dos movimentos guerrilheiros que optaram pela luta armada (sabe o que significa isso: luta armada?*) como opção para derrubar o governo e implantar a “ditadura do proletariado” (sabe o que é isso: ditadura do proletariado? **) no Brasil, deixavam ilustres estrangeiros participarem de reuniões do alto escalão do governo, onde se reuniam os mais importantes generais do país para debater sobre a guerra contra os terroristas. É estarrecedor!
Um cidadão estrangeiro tem acesso a uma reunião do generalato do governo militar e escuta, em alto e bom som os generais decidirem sobre assassinatos de terroristas como forma de derrotar os movimentos subversivos que os queriam fora do Poder Central para alinhar o Brasil a pior escória do comunismo internacional na época, o praticado por Stalin na famigerada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). 
E numa reunião fechada, pode-se até dizer secreta do ponto de vista estratégico no combate aos terroristas, um agente da CIA, escuta atentamente as conversas entre os generais e produz um relatório contando tudo o que ouviu naquela reunião dos generais, menos de um mês depois da posse do general Geisel na presidência da República como o quarto general a presidir o Brasil durante o regime militar. O interessante no tal relatório do senhor William Egan Colby é que ele é preciso em detalhes das conversas e cita, inclusive, que o ex-presidente Geisel acha o trabalho do CIE “potencialmente prejudicial” ao regime e pede tempo para pensar se as ações continuariam ou não. Tempo para pensar significa que ele não vai decidir ali e naquela hora. 
Mas o americano William Egan Colby, hoje tornado ícone da esquerdopatia nacional e foco da grande mídia brasileira em manchetes sensacionalistas, escreve mais adiante que o general Geisel concordou, junto com o chefe do SNI, general Figueiredo, em dar continuidade as ações de combate aos terroristas desenvolvidas pelo CIE. Como o agente da CIA tomou conhecimento dessa decisão? Quem conhece o temperamento do ex-presidente Geisel sabe que ele não tomava decisões de momento, tinha o hábito de analisar por alguns dias, consultando seus assessores como o general Golbery do Couto e Silva, para depois decidir. 
Então se o general pediu tempo para pensar no assunto, não deve ter decidido na reunião do generalato nacional daquele dia aberta ao público externo como num convescote de estudantes de qualquer faculdade. Se não decidiu na hora, e o agente da CIA declara que a decisão de Geisel foi pela continuidade do combate aos terroristas na guerra entre o governo e os movimentos guerrilheiros da luta armada, então como esse senhor descreve em detalhes a ordem do ex-presidente Geisel? É estarrecedor!
William Egan Colby deve ser um desses americanos abençoados com sistema de telepatia embutido na alma que pode captar conversas a longa distância e reproduzi-las com a fidelidade de quem as produziu, onde, quando e como estiver acontecendo a conversa, isoladamente num banheiro, numa quarto de motel, numa rua isolada da cidade, num cabaré, numa pocilga mental ou até mesmo numa reunião fechada do alto escalão das Forças Armadas em um lugar de acesso reservado para o generalato nacional. Estarrecedor!
Por outro lado, a lista divulgada pelo portal G1 traz pessoas mortas em países como Holanda, Alemanha, França, Chile e Argentina, num total de 18 terroristas creditados na conta do CIE. Há, inclusive na conta do regime militar, suicídios (sabe o que significa suicídio? ***) como o do frei Tito de Alencar Lima que tirou a própria vida quando morava na Fraça. Outra posta na conta do CIE é jornalista Jane Vanini que morreu num confronto entre os terroristas e as forças de segurança chilenas, no Chile.
E vamos mais: a estilista Zuzu Angel, morreu em um acidente de automóvel e está na lista das pessoas assassinadas pelo regime militar, era Geisel. Massafumi Yoshinaga e Manoel Custódio Martins, outros dois suicidas que estão na cota dos militares. Monica Suazana Pinos Binstok integrante do grupo de terrorista “Motoneros”, morreu em confronto armado com grupo argentino anticomunista, também faz parte dos assassinados pelo governo militar brasileiro. Liliana Inês Goldemberg, também do grupo terrorista argentino “Motoneros” que suicidou-se para não ser presa pela polícia da Argentina.
Enfim, a lista dos 89 postada no portal G1 com a manchete sensacionalista: “89 morreram ou desapareceram após reunião relatada pela CIA em que Geisel autoriza mortes” é semelhante ao processo do assassinato de judeus na Segunda Guerra Mundial promovido pelo comunista Stalin na URSS. Há informações de que mais de 2 milhões de judeus russo foram assassinatos pelo ditador comunista e, ao se aliar ao Reino Unido e aos EUA para derrotar o fuher Hitler, colocou os judeus assassinados por ele na conta do alemão quando os corpos foram descobertos pelos aliados.
Outro detalhe que a grande imprensa do Brasil não levou em consideração é a atuação dessas pessoas como agentes políticos e terroristas urbanos. Na lista estão relacionadas a militância de todos eles e suas ações de luta armada. Era uma guerra que se travava naquela época e isso não permite outro registro do que o confronto entre um governo (militar) e movimentos que armavam seus militantes e praticavam ações de terrorismo para derrubar o governo e implantar a ditadura do proletariado no país. Um lado perdeu a guerra e, como toda guerra tem seu preço, a história registra mortes de ambos os lados.  
A anistia de 1979 colocou uma pedra sobre esse período da história brasileira. O que se quer agora e por ocasião do momento político em que o Brasil vive, é transformar derrotados em vencedores e terroristas em heróis nacionais, coisa muito comum nos países totalitários onde os ditadores escrevem a história como melhor lhe convier no momento. A quem acredite que os terroristas da VPR, ALN, MR-8, Molipo, VARPALMARES, MNR, PCdoB, PCB, APML, entre outros menos expressivos e de ocasião, eram “gente boa”, que agiam educadamente e que tratavam seus inimigos com respeito e que suas ações não atingiam civis inocentes que nada tinham a ver com a guerra entre o terrorismo e o governo militar.
Basta uma rápida pesquisa na história desse movimentos terroristas para se conhecer a verdade, como o relatório da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), datado de setembro de 1970, relatando a experiência guerrilheira no Vale da Ribeira (SP). Em um trecho, a VPR, cita a captura de um tenente das Forças de Segurança, transformado em refém (tipo salvo-conduto) para ultrapassar as barreiras militares no caminho, e depois seu julgamento, condenação e execução sumária a golpes de coronhadas, porque não podiam atirar para não dar sua localização para o inimigo que o cercava. 
 “(...) A sentença de morte de um Tribunal Revolucionário deve ser cumprida por fuzilamento. No entanto, nos encontrávamos próximo ao inimigo, dentro de um cerco que pode ser executado em virtude da existência de muitas estradas na região. O tenente Mendes foi condenado a morrer à coronhadas de fuzil, e assim o foi, sendo depois enterrado. Não sofreu qualquer violência ou ameaça antes do justiçamento, nem teve as mãos amarradas (...)”. https://www.marxists.org/portugues/tematica/1970/09/manifesto-vpr-ribeira.htm

Também pode se ver a extensão do confronto no manifesto distribuído pela Aliança Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de outubro (8 de outubro foi o dia em que Che Guevarra foi morto na selva boliviana), em 4 de setembro de 1969, quando do sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, trocado por 15 presos políticos brasileiros. Logo no início os dois grupos terroristas dizem o que são e a que vieram:
“Grupos revolucionários detiveram hoje o Sr. Charles Burke Elbrick, embaixador dos Estados Unidos, levando-o para algum lugar do país, onde o mantêm preso. Este ato não é um episódio isolado. Ele se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se arrecadam fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; ocupação de quartéis e delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à luta do povo; explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores (...)”

É estarrecedor deturpar a história e apresentar para a sociedade o lado alterado por interesses inconfessáveis e criminosos.

*A luta armada de esquerda no Brasil se refere à ação de grupos de guerrilha, urbana ou camponesa, que lutaram contra a Ditadura Militar brasileira desde o Golpe de Estado no Brasil em 1964. Estes grupos tinham em sua maioria inspiração nas experiências revolucionárias da União Soviética, Cuba ou no Maoismo chinês. (Wikipedia)
**A ditadura do proletariado trata-se de um estado sem participação direta da sociedade, portanto não-democrático, caracterizado pela existência de organismos de governo de classe, onde toda autoridade pública é eleita e revogada sob as bases da escolha de representantes através do voto de um pequeno grupo perpetuado no poder, e nunca pelo sufrágio universal - como ocorre na China atual -, ou através da restrição de elegibilidade passiva de representantes, quando a população só é autorizada votar em uma listas fechadas de representantes, excluindo-se opositores do sistema vigente - como ocorre em Cuba nos dias atuais. (Wikipedia)
*** Suicídio ou autocídio (do latim, sui, ou do grego autos: "próprio" e do latim caedere ou cidium: "matar") é o ato intencional de matar a si mesmo. Os factores de risco incluem transtornos mentais e/ou psicológicos como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e abuso de drogas, incluindo alcoolismo e uso de benzodiazepinas.(Wikipedia)

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