O embate entre o "criador" e "criatura" pode começar em 2019 com foco em 2020

Paulo Emídio, Terezinha Maia, Zenaide Maia e Jaime Calado 


(Marcus Ottoni – jornalista)
Ao que parece o ex-prefeito de São Gonçalo do Amarante, Jaime Calado, faz parte do grupo de políticos que não dá ponto sem nó, além de ser um mestre no tabuleiro do xadrez político e mexer, com maestria, as peças em um jogo onde, propositalmente, se perde uma jogada com a finalidade de ganhar a partida, deixando, momentaneamente, o adversário com a sensação de poder e vitória.
Por este ângulo se pode analisar a eleição do atual prefeito de São Gonçalo do Amarante, Paulo Emídio, ex-auxiliar de primeiro escalão de Jaime Calado, alçado à condição de seu sucessor e eleito prefeito municipal com folga para um mandato até 2020. É o que se classifica no universo político como a “criatura” gestada pelo “criador” que lhe dá o Poder sem contudo lhe conceder a independência e a liderança do eleitorado.
Uma estratégia pensada com olhos no futuro para o sucesso de um projeto que passa pela eleição deste ano e para onde convergem todos as manobras em solo sangonçalense envolvendo interesses familiares, tanto do “criador”, como da “criatura”. E, nesse quesito, o “criador” leva vantagem porque tem a liderança política, embora a “criatura” tenha, aparentemente, o comando do poder administrativo, aparelhado pelo “criador”.
Nesse tabuleiro entende-se o racha no processo eleitoral em curso no município, onde “criador” e “criatura” se enfrentam dissimuladamente, dando a entender que, entre eles, tudo caminha de acordo com o combinado, sem arestas e sem as jogadas de bastidores que influenciam positivamente as peças do “criador” no tabuleiro do xadrez político local.
Mas é visível a fissura que se começa a desenhar entre “criador” e “criatura” e que deve ampliar a distância entre eles já a partir do próximo ano com o resultado das eleições de outubro e com foco em 2020, quando Paulo Emídio estará disputando seu segundo mandato em uma eleição com regras totalmente diferentes. Será, então, o embate entre “criador” e “criatura” num palco onde os que hoje estão juntos, amanhã estarão separados.
Os sinais desse projeto estão se caracterizando momento a momento no decorrer da eleição deste ano. Se por um lado Paulo Emídio tenta emplacar um mandato de deputado estadual para sua esposa, Terezinha Maia, para empoderar sua gestão, do lado do “criador”, a filha do casal Jaime/Zenaide, Mada Calado, corre na mesma direção em busca de uma cadeira na Assembleia Legislativa. A queda de braço entre Terezinha Maia e Mada Calado pode amputar a oportunidade de São Gonçalo ter novamente seu representante no Poder Legislativo do estado e maximizar o descontentamento entre “criatura” e “criador”.
Analisando politicamente o quadro local é fácil identificar as vantagens do “criador” em relação a sua “criatura”. Jaime apoia a senadora Fátima Bezerra para governadora e tem sua esposa como a fiel escudeira da petista que quer ver Zenaide Maia ocupando uma cadeira no Senado Federal. Além disso, tem no seio familiar a ligação histórica com o PT, cujo irmão e vereador em Natal, Fernando Lucena, quer ver a sobrinha eleita deputada estadual.
Já Paulo Emídio atrelou a candidatura de sua esposa Terezinha Maia ao malfadado atual governador e candidato à reeleição Robinson Faria, cuja campanha vai naufragando dia após dia sem qualquer chance de continuar no Palácio Potengi por mais quatro anos, o que fará do prefeito de São Gonçalo mais um órfão político da gestão desastrosa de Robinson Faria. Além disso, Paulo tem colado a candidatura de Terezinha Maia na de Zenaide Maia para o Senado, reforçando, inconscientemente, a liderança do seu “criador” e da família Calado junto ao eleitorado sangonçalense.
A possibilidade da senadora Fátima Bezerra ser eleita governadora do Rio Grande do Norte é real e isso levará os Calados (Jaime, Zenaide e Mada) para dentro do governo do estado aumentando o poder do “criador” no município e na região metropolitana da capital e, consequentemente, reduzindo drasticamente o raio de atuação de Paulo Emídio e do seu grupo minoritário na administração de São Gonçalo do Amarante. Diante dessa realidade, o rompimento e o confronto entre “criador” e “criatura” já começa a se processar em 2019 a passos largos para 2020.
Integrando um futuro governo de Fátima Bezerra, obtendo ou não sucesso nas eleições de Zenaide e Mada para o Senado e Assembleia Legislativa, respectivamente, Jaime Calado terá como alternativa colocar sua esposa para disputar a prefeitura de São Gonçalo do Amarante, em 2020, contra sua “criatura”, o atual prefeito Paulo Emídio, mesmo que ele consiga êxito na empreitada eleitoral de sua esposa, conquistando um mandato de deputado estadual para Terezinha Maia.
Como se disse no início desse artigo, ao eleger Paulo Emídio seu sucessor, Jaime Calado entregou para sua “criatura” a administração municipal e não a liderança política eleitoral que ele construiu durante as suas duas gestões positivas em São Gonçalo. Ao longo de sua estada na prefeitura municipal, Jaime soube, como lhe é próprio, aparelhar o Poder Público de São Gonçalo com fiéis escudeiros de seu projeto político, exatamente para atravessar o período de ausência de Poder e os obstáculos próprios de quem faz política com o pé no presente e os olhos no futuro.

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