Carta a um amigo de luta
(Marcus Ottoni - jornalista)
Meu caro amigo me perdoe por favor, mas quero conversar com
você. Nós que estivemos nas ruas brigando pela democracia, enfrentando os dissabores
da solidão e da amargura, e que levamos tanto tempo protestando para ter de
volta o direito de escolher os dirigentes do nosso país, não acredito que você,
guerreiro democrata e companheiro de lutas memoráveis, se dê a esquisitice de
atravessar a faixa da liberdade e se deixar possuir por tudo aquilo que
combatemos e contra o qual lutamos e deixamos na história os melhores anos de
nossa juventude, ousada, corajosa e eternamente apaixonada pela liberdade e
pela democracia.
Mas queria te perguntar uma coisa, e como não tenho
portador, uso a internet como mensageiro de minhas dúvidas nesses tempos
atuais. Tenho visto suas manifestações sobre preferência eleitoral, suas
justificativas, suas defesas do candidato que escolhestes e, enfim, tenho me
surpreendido com tudo isso e fico me perguntando o que contigo aconteceu? Sei
mais do que ninguém que não faz parte de seu histórico político o atrelamento a
ilegalidade, o conluio com a improbidade, o apoio a bandidagem e... o casamento
político com marginais do colarinho branco e seus quadrilheiros espalhados
pelos poderes da República, desmoralizando todos eles.
Não encontro justificativa, e isso me deixa boquiaberto, para
o que tenho lido em suas postagens e não quero crer que você tornou-se um
desses robôs de ocasião que os maus políticos utilizam para conseguir atingir
seus interesses inconfessáveis e criminosos. Posso até tentar compreender que
tudo muda, inclusive as pessoas, que na trilha da existência, muitas vezes,
alteram o comportamento para adequar-se à nova realidade e aos avanços do mundo
com sua globalização e as tecnologias modernas de comunicação e interação.
Mudam sim. As pessoas mudam seu comportamento mas não mudam
o caráter. Porque mudar o caráter é desconstruir a própria história e a
dignidade que se construiu com muito suor, lágrima e ousadia. Por isso meu caro
amigo, gostaria, e juro que tenho me esforçado para isso, de entender o porquê
você está do lado de lá da linha da coerência, da integridade, da lealdade, da
democracia. Você, como eu, sabe como é difícil acreditar num falatório de 40
dias apenas contra um discurso continuo de longos anos repetindo e mantendo-se
fiel a primeira fala que se prolonga até os dias atuais e não um papo de
marqueteiro para a plasticidade da mentira eleitoral. Sabemos disso, não é meu
caro amigo?
Por isso, me é difícil acreditar que você, como outros que
conosco estiveram na luta pela redemocratização do Brasil, embora sem a
intimidade que nos tornou irmãos e aproximou nossas famílias como uma única
instituição cristã, esteja pregando o voto em candidato que usa as pessoas para
projetos ditatoriais com a falácia de estar defendo a democracia e ser democrata
convicto. Não consigo compreender sua posição, embora a respeite e me
entristeça por vê-lo enveredar por um caminho tortuoso e nefasto, não apenas
para você, mas para todos nós brasileiros.
Você, como eu e todo o povo brasileiro, conhece o histórico
dessas pessoas com as quais divide sua preferência eleitoral. Sabe e sofre
também, como todos nós, o efeito desastroso de um grupo de marginais que
assaltou o país, escravizou a sociedade, destruiu o patrimônio e desmoralizou
os poderes da República, os três e uma só vez. Como homem esclarecido, bem
informado, antenado e plugado no mundo globalizado, sabe que a história não é a
que os homens querem escrever de acordo com suas conveniências, mas aquela que
a sociedade faz acontecer e que fica como legado para as gerações futuras.
Entretranto, não posso me opor a sua decisão e suas
colocações nas redes sociais com relação a sua opção eleitoral para a
presidência da República. Até mesmo porque, como democrata, me sinto impedido
para me opor a sua opção e tenho que, primeiramente, respeita-la. Acredito que
num futuro próximo poderemos abrir um garrafa de vinho e brindar um Brasil que
quero ver acontecer sem o pesadelo do comunismo fracassado no mundo, sem o
fantasma da escravidão contemporânea da sociedade, sem a mentira, sem o medo de
ser feliz, com mais justiça, diversificado em sua essência como nação, fortalecido
em sua democracia, desenvolvido em suas potencialidades, livre e soberano. Penso
que você também o quer assim.
Fica aqui um forte abraço e o convite para que você possa
mudar sua opção eleitoral. Sem pressa, mas com consciência do verdadeiro
brasileiro. Você tem tempo para mudar, no dia 7, até às 17 horas.
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