A afronta do PT à República e à democracia
(Roberto Freire - deputado federal MD)
Depois de protagonizar uma ofensiva contra a criação de
novos partidos por meio de um projeto de lei que limita o acesso das legendas
ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão,
o PT revela que sua sanha autoritária não tem limites e agora se volta contra o
Poder Judiciário. O alvo da vez é o Supremo Tribunal Federal (STF), instância
maior da Justiça brasileira, cujo pecado imperdoável para os petistas parece
ter sido a condenação de alguns próceres do partido envolvidos no mensalão.
Na última semana, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
da Câmara aprovou a admissibilidade de uma aberrante Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) de autoria do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) que submete
algumas decisões do STF ao crivo do Congresso Nacional. De acordo com a
proposta, as decisões da Corte sobre as chamadas Ações Diretas de
Inconstitucionalidade (Adin) teriam de obter o aval do Legislativo, assim como
as súmulas vinculantes, que são mecanismos editados pelo Supremo e seguidos
pelos demais níveis do Judiciário.
Atendendo a mandados de segurança protocolados pela
Mobilização Democrática (MD) e pelo PSDB que pediam a suspensão da PEC, o
ministro José Antonio Dias Toffoli, do STF, estabeleceu um prazo de 72 horas
para que a Mesa Diretora da Câmara desse explicações sobre tamanho disparate.
Mesmo assim, o PT não se deu por vencido e voltou à ribalta com o ex-presidente
da Casa, deputado Marco Maia (RS). O parlamentar já começou a garimpar
assinaturas de apoio a uma proposta que proíbe qualquer ministro do Supremo de
tomar decisões sobre medidas do Legislativo de forma monocrática, ou seja, sem
consultar o plenário do tribunal. Novamente, trata-se de revanchismo rasteiro
contra o Judiciário, desta vez em resposta ao ministro Gilmar Mendes, que
suspendeu a tramitação do projeto que inibe os novos partidos até que o tema
seja apreciado pela Corte.
A indecorosa ofensiva do PT contra o Judiciário ignora uma
premissa básica do equilíbrio entre os Três Poderes: não se pode, por meio de
uma lei ordinária, mudar uma interpretação do STF sobre a Constituição. No ano
passado, por exemplo, ao analisar o caso do então recém-criado PSD, a Suprema
Corte se debruçou sobre a Carta Magna e entendeu que, quando se trata de
migração para um novo partido, o parlamentar leva consigo o tempo de televisão
para a nova agremiação – e foi baseado nesta jurisprudência que Mendes
suspendeu o projeto temporariamente. Em última análise, a famigerada proposta
de autoria do petista Nazareno fere as prerrogativas do STF de interpretar a
Constituição e ser seu guardião permanente.
Assim como na reação à iniciativa do governo de inviabilizar
novos partidos, a sociedade brasileira se mobilizou e, de forma peremptória,
manifestou seu repúdio à tentativa do PT de amordaçar o STF. A liberdade de
organização partidária e a independência entre os Poderes da República são
alguns dos valores inegociáveis pelos quais o país lutou muito para conquistar.
Qualquer ameaça a esses princípios pétreos deve ser repelida por todos aqueles
que prezam a democracia.
*Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente
nacional da Mobilização Democrática (MD)
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