Um trem lotado de "faraós" na Casa do Povo

Assembleia: 3.592 cargos comissionados e o silêncio dos deputados  (foto cedida)
(Marcus Ottoni)
  Qual o mérito em se cumprir a Lei? Nenhum. Principalmente se o agente é um personagem público com responsabilidade de gestão em órgão público. O mérito virá se ao cumprir a lei o gestor identificar distorções, ilegalidades e irregularidades e as corrigir de forma implacável a não deixar dúvidas de que ele está a serviço da sociedade e na defesa do patrimônio do povo brasileiro.
  Ao liberar as informações sobre a folha de pessoal lotado na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte no Portal da Transparência do órgão, o presidente deputado não fez mais do que cumprir a lei e dar visibilidade a um dos maiores e mais vergonhoso escândalo de “apadrinhamento político” custeado com recursos do contribuinte cujos valores ultrapassam a nababesca casa dos bilhões de reais.
  A listagem com mais de 3.200 pessoas, das quais pouco mais de 600 são servidores concursados e o resto engorda o bolo do “trem da alegria” do Legislativo nos trilhos da imoralidade desde o final da década de 80, lá pelos idos de 1988, é bem recheada de personalidades de quase todas as profissões. Políticos, advogados, jornalistas, empresários, ex-prefeitos, e por aí desfila os vagões do indecente festival de irregularidades da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte com seus quase 2.592 cargos comissionados.
  Os salários são faraônicos para um estado carente em serviços de saúde pública, deficiente na questão da educação, vulnerável no quesito segurança e cheio de problemas que precisam de recursos para, pelo menos, minimizar o martírio de uma população que paga a maior carga tributária do mundo e sustenta “faraós apadrinhados” no Palácio do Povo com salários na faixa de 10, 15, 20, 25 e 30 mil que todo mês consome 20 milhões de reais do dinheiro do contribuinte. Em um ano, o valor bate na casa dos 260 milhões contando com o 13º salário.
  Todos os passageiros do “trem da alegria” da Assembleia curtem praticamente três meses de férias por ano durante os recessos do Legislativo. Isso não inclui as férias normais que são gozadas todo ano com tudo que se tem direito, inclusive o terço do salário pago religiosamente com recursos do contribuinte a cada um dos comissionados. O pior é que muitos deles nem a aparecem para trabalhar. Alguns moram no interior e tem até que desfrute ares além-mar, em outro continente, mas recebendo religiosamente o salário do imoral “trem da alegria” da AL do RN.
A casa do povo cheia de "faraós apadrinhados"

  Mas um detalhe tem chamado à atenção da população: nenhum deputado estadual se manifestou sobre as irregularidades reveladas pela listagem de pessoal do órgão. Nem da esquerda, nem da direita, nem do centro, nem da beirada. Todos se calaram num verdadeiro escárnio para com a sociedade que também paga os salários dos parlamentares. Muitos deles estarão nas ruas dos municípios este ano pedindo o voto do eleitor para seus candidatos a prefeito e vereadores na eleição de outubro. Talvez justifiquem os faraônicos salários dos comissionados como necessidade ou prerrogativa do Legislativo. Apenas uma nota oficial da Assembleia foi divulgada no canal de TV do órgão sobre o imoral "trem da alegria" do parlamento estadual do Rio Grande do Norte.
  A mesma sociedade que vai às ruas protestar contra aumento de 20 ou 30 centavos na passagem dos ônibus urbanos, deve se indignar com o escárnio revelado com a disponibilização da listagem do pessoal contratado pela Assembleia Legislativa do Estado e se mobilizar para parar as atividades do Poder Legislativo até que todos os irregulares, principalmente aqueles que não trabalham e vivem como sanguessugas do dinheiro do contribuinte, sejam exonerados e obrigados a devolver o dinheiro que receberam irregularmente dos cofres públicos ao longo de todos esses anos.
  É o mínimo que se pode exigir de um Poder Público custeado pela sociedade e que se diz ser a “Casa do Povo” com “Representantes do Povo” e que humilha o povo gastando o dinheiro do contribuinte com um imoral “trem da alegria” com vagões cheios de apadrinhados e protegidos dos deputados atuais. Auditoria para identificar as correções necessárias não passa de um paliativo para jogar na vala do esquecimento a lista dos “faraós apadrinhados”, fazer um arranjo jurídico para legalizar a imoralidade e manter tudo como dantes no quartel de Abrantes...

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