O "politicamente correto" cultural
(Marcus Ottoni - jornalista)
Assistindo aos jornais da madrugada/manhã na televisão, me
surpreende o comportamento “politicamente correto” dos jornalistas que ancoram
os telejornais. “Politicamente correto” sob a ótica do patrulhamento ideológico
que mistura utopia com necessidades básicas da população, desconsiderando a
história e o legado de mais de uma década de desmandos administrativos e
políticos.
Além, é claro, da defesa da “cultura da ilegalidade” como
demonstrou numa reportagem sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal
Federal que manda o governo do Rio Grande do Norte devolver para a União algo
em torno de 200 milhões de reais, repassado pelo Fundeb, carimbado para a
educação. Seguidamente o apresentador repetia que o dinheiro era destinado ao
pagamento dos salários dos professores e que a devolução irá comprometer o
pagamento dos vencimentos do pessoal da educação.
Mas o que mais impressiona a cultura do “politicamente
correto” para cair nas graças da ideolopatia reinante e socialmente incorporada
nos meios de comunicação, a defensora do Estado na entrevista confessou que o
governo gastou porque quis um dinheiro que tinha conhecimento que era repassado
irregularmente pela União, já que o governo federal errou no cálculo sobre a
arrecadação estadual e complementou os recursos destinados a educação como
forma de compensar o investimento na área educacional do Rio Grande do Norte.
Segundo a procuradora estadual, o governo avisou a União que
a projeção de arrecadação feita por ela estava errada e que o repasse dos
recursos extras eram desnecessários, alerta que foi desconsiderada pelo governo
federal que continuou repassando os recursos via Fundeb. Mesmo assim,
reconhecendo o erro, continuou a receber o dinheiro e a gastá-lo como se o
repasse desses recursos fosse regular. Ou seja, não é legal, mas já que está
aqui posso gastar, pensamento do governo é claro.
Agora quando a União cobra, via judicial, a devolução dos
quase 200 milhões de reais, tudo vira um caos, um Deus nos acuda. E o
jornalista “politicamente correto” faz coro na justificativa do governo do
Estado, colocando a questão como um ato contra os salários dos professores e
não como uma irresponsabilidade dos agentes públicos estadual que gastou o que
não era dele e que agora tem que devolver o que não tem e vai ter que tirar de quem nada tem com o problema, que é,
na verdade, um comportamento da cultura pernóstica das autoridades brasileiras.
É como se uma pessoa entrasse numa loja e não visse o
atendente. Sozinho entre as prateleiras vai pegando os produtos que lhe interessa
e depois vai embora sem pagar. Mais tarde o dono da loja vai até a casa do
cidadão e cobra pelos produtos. Ele justifica dizendo que os pegou porque não
tinha ninguém na loja para atendê-lo e por isso pegou os produtos. Ele tem que
pagar, não é? É o caso do governo do Rio Grande do Norte com a União no repasse
indevido do Fundeb que foi utilizado mesmo sabendo que não era legal.
E o salário dos professores do Rio Grande do Norte não tem
nenhuma relação com a irresponsabilidade do Governo local. Colocar a categoria
como “fator de sensibilização” no processo entre o Estado e a União é
potencializar a irresponsabilidade dos agentes públicos estaduais que tinha
conhecimento de que o dinheiro não era do Estado, até mesmo porque assim
comunicou a União.
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