Que país é esse, companheiro?

(Marcus Ottoni – jornalista)
  Antes de iniciar esse artigo, gostaria de ressaltar que na política brasileira existem políticos que não participam de esquemas de corrupção, embora sejam exceções raras no universo político nacional em todos os níveis da gestão pública: federal, estadual e municipal. Infelizmente são poucos. Mas existem e representam muito bem o povo brasileiro, independente do partido a que estejam filiados. Ponto...
  Que a política e os políticos brasileiros se sustentam na lama imoral que produzem por meio da roubalheira do dinheiro do contribuinte, não é novidade para nenhum brasileiro em sã consciência. Que a política e os políticos do país representam uma categoria de bandidos finos que rouba do povo por meio da palavra e das canetadas, também não é novidade para ninguém em sã e plena consciência. Que os empresários bandidos cúmplices da corja política nacional são mais criminosos do que o excremento político brasileiro, isso também não é novidade.
  A novidade é que os empresários marginais estão sendo beneficiados pelos acordos de delação premiada com direito a gozarem de uma impunidade mascarada com penas mais leves e com garantias pessoais que nenhum outro cidadão brasileiro tem quando se vê obrigado a prestar contas com a Justiça por esse ou aquele delito. A culpa de toda bandalheira nacional na política brasileira não é apenas dos políticos inescrupulosos e corruptos que se locupletam com o roubo do dinheiro público. É, também, e muito mais, dos empresários que, ao descobrirem o atalho da corrupção se embrenham por ele sem qualquer escrúpulo para tirar vantagem da imoralidade política brasileira e dos políticos desonestos que ocupam cargos, em todos os níveis, na República.
  A culpa do empresariado corrupto é bem maior do que a gatunagem dos políticos ladrões. Primeiro por que se o empresário fosse honesto e correto, não aceitaria participar de um esquema criminoso, mesmo com a garantia de impunidade e enriquecimento estratosférico e a velocidade da luz dos governos, seja federal, estadual ou municipal. São eles, os empresários, e suas ganâncias, que fortalecem e mantém a ciranda da corrupção em movimento. A expertise política no caso, é consequência da oportunidade gerada pelo “aceite” empresarial para integrar o projeto de corrupção elaborado pelas mentes imorais dos políticos brasileiros.
  Não há como não punir ambos, políticos e empresários, com a mesma seriedade e com a mesma intensidade da pena. A delação premiada tornou-se um verdadeiro prêmio para o empresário que confessa seus crimes e que, entre outras coisas, se vê livre de cumprir sua condenação na cadeia, tem a pena reduzida generosamente  e assegurados direitos normais como qualquer cidadão honesto e trabalhador desse país. Corrupção é crime hediondo e como tal deve ser tratado com ou sem delação premiada. A pena deve ser severa e exemplar para que esse câncer social seja definitivamente extirpado do país e a sociedade possa, enfim, ter seus direitos garantidos com a aplicação correta dos recursos públicos arrecadados pelos escorchantes impostos que ela paga.
  É difícil para o cidadão trabalhador, cuja família passa necessidades pelo miserável salário mínimo que recebe no final do mês, entender porque um empresário que participa de esquema criminoso junto com políticos desonestos não é punido e vai para a cadeia após confessar crimes covardemente cometidos contra a Nação e sua gente, apenas porque confessou e entregou seus cumplices da organização criminosa? A dona de casa que se vira pra lá dos trinta para criar seus filhos e manter viva sua família deve ter dificuldades para entender o prêmio de loteria em que se transformou a tal da “delação premiada” que protege o criminoso e lhe dá garantias de uma vida confortável junto com a família, vivendo nababescamente com o dinheiro sujo da corrupção.
  O ideal, como punição para os empresários corruptos, é o confisco de suas empresas e de todo o patrimônio pessoal construído durante o exercício da corrupção com sua prisão num presídio como um marginal autor de crimes contra a sociedade, já que os recursos distribuídos por ele para a nefasta classe polícia desonesta do Brasil são oriundos do tesouro nacional e fruto dos impostos pagos pela sociedade brasileira. As empresas e o patrimônio pessoal dos empresários corruptos seriam alvo de leilão e o dinheiro arrecadado transformado e recursos do tesouro nacional para geração de obras e ações para a sociedade.
  Desta forma, bania-se da sociedade e do meio empresarial os corruptos, da mesma forma que se procederia com os políticos desonestos envolvidos em corrupção: cassação do mandato e proibição de participar da vida publica em qualquer cargo pelo resto da vida. Acredito que com essas medidas o país passaria a viver um tempo de austeridade com relação a pratica da corrupção empresarial e política. Acredito, também, que a tal “delação premiada” teria outro caráter que não de “abençoar” empresários e políticos criminosos fazendo valer a lei para todos e sem os “benefícios” para o “cabueta”* do mundo empresarial e político nacional.
 *Cabueta, termo nordestino que identifica a pessoa que denuncia outra: tipo delator.

Em Tempo: Os delatores ouvidos pela Procuradoria Geral da República (PGR) que fizeram a tal “delação premiada”, Sérgio Machado (ex-presidente da Transpetro) e os irmãos Wesley e Joesley Batista (do Grupo J&F e do frigorífico JBS) gozam de algumas mordomias que indignam o cidadão comum. 
Por exemplo: 
SÉRGIO MACHADO foi obrigado a devolver aos cofres públicos R$ 75 milhões e teve sua pena de 20 anos reduzida para 3 anos em prisão domiciliar em sua luxuosíssima casa na capital do Ceará, Fortaleza, onde permanecerá por 2 anos e 3 meses, podendo depois sair de casa para prestar serviços comunitários pelos 9 meses restantes da pena beneficiada pela confissão dos crimes á PGR. 
JOESLEY E WESLEY BATISTA do Grupo J&F e do frigorífico JBS, junto com outros cinco diretores do grupo, fecharam um acordo com a PGR para devolver R$ 225 milhões aos cofres públicos. Eles têm garantido no acordo de delação a adoção de medidas para garantir a segurança pessoal deles e das famílias de cada um. Ambos estão em liberdade vigiada no exterior, morando num dos mais caros e luxuosos endereços do planeta e vivendo dos recursos que as empresas conseguiram ao longo dos últimos anos em que bancaram a corrupção política nacional.

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