Brasil: “terra de Jurunas”

(Marcus Ottoni – jornalista)

  Os brasileiros assistem a “jurunização” da vida institucional do país com o modismo da gravação de conversas para incriminarem agentes públicos em todos os níveis da federação, independente se a gravação tenha ou não autorização judicial ou que seja instrumentalizada por órgãos ou agentes públicos como orientação para criminosos produzirem provas do envolvimento de seus cúmplices ou desafetos de segmentos políticos, com foro privilegiado ou não, com trânsito nos Poderes da República e, até então, cidadãos acima de qualquer suspeita de integrarem as famosas “OCRIM”.
  Assim ocorreu com o ex-senador petista Delcidio do Amaral, gravado pelo filho do Cerveró, e que promoveu a primeira prisão de um senador da República em pleno exercício do mandato. Foi também com os senadores Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney entre outros, grampeado pelo ex-colega de Senado, Sérgio Machado, que rendeu um belo acordo de delação premiada ao criminoso chefe da Transpetro com direito a prisão domiciliar a beira mar em Fortaleza. Isso sem falar no episódio “Arruda” no Distrito Federal, e na mais recente “jurunização”, em Mato Grosso, com a gravação do propinoduto estadual.
  Porém o oscar da “jurunização” vai para o dono da JBS, Joesley Batista, um ex-açougueiro goiano que tornou-se dono da maior empresa frigorífica do planeta, graças a intimidade promíscua que, ao longo dos 13 anos de governos lulopetista, engordou sua fortuna e colocou sobre seus tentáculos centenas de políticos de diferentes ideologias e siglas partidárias. Ele é o rei das gravações. Não por ter gravado mais do que os seus antecessores, mas pela seletividade dos grampos, incluindo aí, o dele próprio com seu fiel escudeiro delator Ricardo Saud.
  É interessante notar que um mega empresário corruptor e criminoso contumaz e confesso não tenha, em toda sua vida de crime contra o povo brasileiro, gravado ou filmado as tantas vezes em que, desfrutando do prestígio e da intimidade do Poder nos governos Lula e Dilma, corrompeu, propinou, subverteu, degradou, viciou, degenerou e prostituiu políticos e autoridades da República que se auto intitulam “representantes do povo”, imunes as garras da lei e com salvo conduto para propinar a todo custo, hora e ocasião.
  O “criminoso de Goiás” iniciou a “jurunização” somente agora e dentro de um processo seletivo e com cartas marcadas, cujo alvo foram os desafetos do lulopetismo. Porque o senhor de todas as corrupções não grampeou os ex-presidentes Lula e Dilma, os ex-ministros da Fazenda, os senadores petistas, os deputados do PT, PCdoB, PDT e outros “representantes” do esquema que lhe abriu as portas para o enriquecimento ilícito e o comando da corrupção generalizada via suas empresas? Seriam conversas extremamente valiosas para a Procuradoria Geral da República e para o povo brasileiro. 
  Interessante notar que o processo seletivo de “jurunização” promovida pelo goiano criminoso e sua “troupe” de cúmplices é parte de uma estratégia para fazer jus a benefícios inimagináveis para criminosos que ao longo de mais de um década amealhou e achincalhou, não a classe política nacional, mas o povo brasileiro que se viu privado de ações públicas nas áreas da saúde, educação, segurança, mobilidade urbana, infra-estrutura, etc. Muito estranho ele, o “criminoso de Goiás”, ter despertado para a “jurunização” somente agora quando a Operação Lava Jato mordiscava o calcanhar das empresas do grupo JeF.
  Se houve orientação para isso, quem é que sabe? Embora ele mesmo, o “criminoso de Goiás”, confessou a participação efetiva do ex-procurador Miller no esquema, incluindo aí, conforme trecho do depoimento do seu capanga, Ricardo Saud, de que Miller fazia a revisão dos anexos da delação para a PGR, lhe deu bronca ao tomar conhecimento da gravação da conversa com advogado Cardozo (ex-ministro da Justiça no governo petista de Dilma) e o avisou de que a gravação de Cardozo poderia colocar na cadeia tanto, ele, Ricardo Saud, como o Joesley Batista.
  A “jurunização” da JBS, via Joesley Batista e Ricardo Saud, e todo o processo de produção da delação premiada acordada com a PGR e homologada pelo STF coloca em risco essa ferramenta jurídica já que revelou-se manipulável do ponto de vista do delator que, entre outras coisas, como neste caso específico, teve o objetivo de garantir os privilégios e benefícios concedidos numa urgência e num grau jamais visto em outros processos de deleção premiada feitos junto a PGR e homologados pelo STF. 

Deputado federal Cacique Xavante Mário Juruna (fotos: internet)

EM TEMPO:  O termo “jurunização” utilizado nesse artigo é referente a forma como o cacique Juruna, índio Xavante da aldeia de Manunjá, em Barra do Garça (MT), eleito deputado federal pelo PDT de Leonel Brizola em 1982 com 31 mil votos cariocas, atuava na defesa dos interesses dos índios. Mário Juruna foi o responsável pela criação da “Comissão Permanente do Índio”, na Câmara Federal, além de organizar o 1º Encontro de Lideranças dos Povos Indígenas do Brasil com a participação de mais de 640 caciques. Juruna ficou famoso por carregar um gravador onde gravava todas as conversas que mantinha com dirigentes da FUNAI e autoridades do governo para provar as mentiras que eram prometidas para os índios do Brasil.

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