Janot: quem não faz na entrada, certamente fará na saída

(Marcus Ottoni – jornalista)
  Dizem lá pelas Gerais que quem não mela na entrada, mela na saída. Não há dito popular melhor do que este para exemplificar a atuação do atual procurador geral da República, Rodrigo Janot. Vestal da probidade, da ética, da lisura e paladino do combate a corrupção e intrépido caçador de corruptos, o doutor Janot está, no final do seu mandato como Procurador Geral da República, vendo a casa cair e sua complacência com criminosos delatores tornar-se alvo de suspeita de práticas “pouco republicanas” usadas para saciar sua ira contra aqueles com os quais se desentende.
  A delação do criminoso goiano dono da J&F, controladora da JBS, Joesley Batista e seu ordenança Ricardo Saud, pegaram o Janot com as calças nas mãos e revelaram que nos bastidores de todo o processo tem mais lama podre do que as pocilgas de porcos em quintais de chácaras goianas. De bandidos preferidos e privilegiados a algozes da trajetória gloriosa do homem forte do Ministério Público Federal foi um pulo, ou melhor, uma gravação com quatro horas de escárnio e esnobismo exacerbado pela certeza de que a impunidade seria garantida pelo doutor Janot em troca da maracutaia arquitetada pelo então homem de confiança do Procurador Geral da República que virou advogado da JBS.
  E agora Janot? Sai de fininho e apaga a luz para ninguém notar sua melancólica saída pela porta dos fundos para não ter que encarar a sociedade brasileira que você manipulou enquanto orquestrava as delações e os super-hiper-extras benefícios para os criminosos que aceitavam lhe entregar a cabeça de seus desafetos numa bandeja forrada com papel oficial da PGR, ou fica choramingando como mulher mal amada traída? Como fica a imagem do doutor Janot em sua luta contra a corrupção, a mentira, o falso exercício da atividade pública e os gravíssimos crimes perpetrados contra o povo brasileiro por uma classe política inescrupulosa.
  O antigo sorriso irônico que ilustrava o rosto do Procurador Geral da República nas aparições na mídia, desapareceu em suas mais recentes entrevistas dando lugar a um semblante muito parecido com os de um “traquineiro” pego fazendo traquinagem e tendo que se explicar para tentar safar-se da confusão em que ele mesmo se meteu. Ao confessar que o que movia suas ações contra seus adversários era o medo e não a coragem, Janot ressalta sua “truculência jurídica” criadora de factoides e seu modelo seletivo de atuação no combate aos líderes das organizações criminosas atuando no Brasil, além da morosidade proposital para denunciar alguns dos criminosos chefes do crime organizado. 
  Vale a pena destacar a cômica tentativa de passar-se por vítima de uma dupla de criminosos que não mediram esforços para anarquizar e desmoralizar o instituto da delação premiada. Principalmente por dois motivos: a experiência do senhor Janot em anos como Procurador Geral da República o colocaria em alerta, que o faria ter cautela antes de vangloriar-se pela produção do acordo com os criminosos goianos e divulgar com estardalhaço as denúncias feitas por eles, além dos benefícios garantidos para quem roubou e corrompeu o Brasil durante anos de governos petistas.
  Segundo: se a experiência falhou em detectar irregularidades no processo de delação da J&F, porque falhou e o porquê do açodamento em dar publicidade as denúncias dos goianos criando problemas de toda ordem para o país, vunerabilizando a governabilidade, a democracia e os Poderes da República? O que há de podre na construção do acordo de delação premiada feito pelos açougueiros goianos e aceita e homologada em tempo recorde com benefícios inimagináveis para bandidos protegidos por Janot e pela PGR?
  O próprio Janot é citado na gravação como futuro integrante de um escritório de advocacia tão logo deixasse a PGR. O mesmo lugar para onde foi seu homem de confiança depois de instruir os irmãos Joesley e Wesley Batista sobre o que e quem interessava a Janot na delação deles.
  Outro detalhe curioso é a denúncia feita por Janot envolvendo os dirigentes do Partido dos Trabalhadores, como os ex-presidentes Lula e Dilma; a atual presidente do PT, senadora Gleisi; ex-ministros do lulopetismo e o ex-tesoureiro do partido. A denúncia feita esta semana por Janot, depois que a gravação das conversas entre Joesley Batista e Ricardo Saud foram divulgadas, reforça o modelo de trabalho diferenciado do procurador geral da República entre criminosos de colarinho branco carimbados de adversários e outros sem a tarja de desafeto. Até porque, esse pessoal do PT está denunciado há muito tempo na operação Lava Jato, muito antes da “cabulosa” delação premiada dos goianos ser homologada pelo STF.

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