Porque as entidades apodrecem?

(Marcus Ottoni - jornalista) 
  A manutenção do continuísmo nas entidades classistas é uma forma de amordaçar a categoria e impedir avanços significativos com novas conquistas junto a classe patronal, principalmente se o patrão é o Poder Público com viés de corrupção e encharcamento na lama podre da picaretagem explícita promovida por políticos sem escrúpulos e mal intencionados no exercício da atividade pública. O continuísmo apodrece a entidade porque gera a promiscuidade entre o dirigente do órgão classista e o dirigente patronal.
  Manter na direção da entidade classista um associado que ao longo de décadas transformou a representação da categoria em puxadinho de seu patrimônio pessoal com ritos ditatoriais e privilégios para seus companheiros de gestão, é um dos grandes erros que os trabalhadores cometem quando contribuem para o continuísmo pelo próprio continuísmo, iludidos pela falácia de que “não se mexe em time que está ganhando”. Erro irreparável e de consequências desastrosas para o coletivo dos trabalhadores.
  Assumir essa postura é ir na contramão da renovação e da oxigenação da entidade, tão necessária como a reciclagem que somos obrigados a realizar em nossas vidas pela evolução do planeta e dos meios de existência que ele nos oferece cotidianamente. Ousar renovar é um processo de construção coletiva ancorado na mudança global que nos faz ficar antenados com o novo e descartar o antigo pelo esgotamento de sua condição e capacidade para gerar benefícios coletivos e novas conquistas para a categoria.  
  Um exemplo negativo de continuísmo são os mandatos parlamentares reeditados a cada eleição, mantendo no Poder os mesmo inescrupulosos políticos (há raras exceções, verdade) com as mesmas práticas corruptas e nefastas para a sociedade brasileira. Vale aqui destacar um dito popular muito propício ao tema: “o hábito do cachimbo entorta a boca”. Pura verdade se o utilizarmos para desenhar o quadro atual da política brasileira onde parlamentares de todas as siglas engendram artimanhas de toda sorte para manterem-se no Poder com todas as benesses do mandato e pouco ou nada em benefício da sociedade brasileira.
  O continuísmo é a praga da democracia porque garante impunidade àquele que administra uma entidade ou um Poder Público, perpetrando a desigualdade na disputa porque dá a quem quer se manter no poder condições privilegiadas para iludir os associados com ações de pirotecnia explicita durante o período da campanha pelo voto do associado. Vale mais uma vez citar a política partidária como exemplo de engodo eleitoral, não muito diferente quando a eleição se realiza numa entidade de classe.
  Em 2016 toda Natal assistiu a disputa entre o atual prefeito do PDT e os outros candidatos a gestor da capital. Durante a campanha eleitoral, o então prefeito e candidato à reeleição se apresentou ao eleitorado natalense como o mais competente candidato porque havia salvo a cidade do “Monstro do PV”, em 2012, além de dizer que a prefeitura estava em dia, saneada, que havia derrotado a crise que se instalara em todo o Brasil, que tudo funcionava perfeitamente, que os servidores recebiam em dia, que Natal era a “ilha da maravilha” no mar tenebroso do país Brasil, blá,blá,blá. Por tudo isso, Natal deveria apostar no continuísmo de sua gestão e em sua reeleição como prefeito da capital do Rio Grande do Norte.
 Tão logo as urnas se fecharam e o resultado foi anunciado pelo Tribunal Regional Eleitoral, o quadro mudou radicalmente. A sociedade natalense assistiu ao desmonte da pirotecnia eleitoreira do senhor Carlos Eduardo Alves e todos os problemas do mundo desabaram sobre a sua administração desastrosa e perduram até os dias atuais. Agora, o  alcaide ele tem um novo discurso culpando a crise por todos os problemas enfrentados pela cidade nos dias pós eleição municipal. A mesma crise que ele disse ter debelado durante a campanha e que serviu de ferramenta de ilusão para conquistar a maioria do voto natalense.
  Com a eleição de uma entidade de classe é a mesma coisa. Quem quer se perpetuar na direção da representação classista atua da mesma forma como fez o alcaide reeleito. Essa prática se incorpora ao DNA do continuísta ao longo dos anos em que faz da entidade um pedaço do seu patrimônio particular, gerenciando demagogicamente e ditatorialmente a entidade de todos os associados e não apenas de seus parentes, apadrinhados, apaniguados e mequetrefes de plantão.
  A volúpia do continuísta pelo poder, entre tantas outras razões, tem uma em especial: o temor de que coisas pouco republicanas, éticas e honestas praticadas ao longo de sua permanência na direção da entidade possam ser reveladas pela renovação e, com isso, leva-los a implicações legais e morais. A primeira junto a Justiça e a segunda no âmbito da categoria.

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