Porque as entidades apodrecem?
A manutenção do continuísmo nas entidades classistas é uma
forma de amordaçar a categoria e impedir avanços significativos com novas
conquistas junto a classe patronal, principalmente se o patrão é o Poder Público
com viés de corrupção e encharcamento na lama podre da picaretagem explícita promovida
por políticos sem escrúpulos e mal intencionados no exercício da atividade
pública. O continuísmo apodrece a entidade porque gera a promiscuidade entre o
dirigente do órgão classista e o dirigente patronal.
Manter na direção da entidade classista um associado que ao
longo de décadas transformou a representação da categoria em puxadinho de seu
patrimônio pessoal com ritos ditatoriais e privilégios para seus companheiros
de gestão, é um dos grandes erros que os trabalhadores cometem quando
contribuem para o continuísmo pelo próprio continuísmo, iludidos pela falácia de
que “não se mexe em time que está ganhando”. Erro irreparável e de
consequências desastrosas para o coletivo dos trabalhadores.
Assumir essa postura é ir na contramão da renovação e da
oxigenação da entidade, tão necessária como a reciclagem que somos obrigados a
realizar em nossas vidas pela evolução do planeta e dos meios de existência que
ele nos oferece cotidianamente. Ousar renovar é um processo de construção
coletiva ancorado na mudança global que nos faz ficar antenados com o novo e
descartar o antigo pelo esgotamento de sua condição e capacidade para gerar
benefícios coletivos e novas conquistas para a categoria.
Um exemplo negativo de continuísmo são os mandatos
parlamentares reeditados a cada eleição, mantendo no Poder os mesmo inescrupulosos
políticos (há raras exceções, verdade) com as mesmas práticas corruptas e
nefastas para a sociedade brasileira. Vale aqui destacar um dito popular muito
propício ao tema: “o hábito do cachimbo entorta a boca”. Pura verdade se o
utilizarmos para desenhar o quadro atual da política brasileira onde parlamentares
de todas as siglas engendram artimanhas de toda sorte para manterem-se no Poder
com todas as benesses do mandato e pouco ou nada em benefício da sociedade
brasileira.
O continuísmo é a praga da democracia porque garante
impunidade àquele que administra uma entidade ou um Poder Público, perpetrando
a desigualdade na disputa porque dá a quem quer se manter no poder condições
privilegiadas para iludir os associados com ações de pirotecnia explicita
durante o período da campanha pelo voto do associado. Vale mais uma vez citar a
política partidária como exemplo de engodo eleitoral, não muito diferente
quando a eleição se realiza numa entidade de classe.
Em 2016 toda Natal assistiu a disputa entre o atual prefeito
do PDT e os outros candidatos a gestor da capital. Durante a campanha eleitoral,
o então prefeito e candidato à reeleição se apresentou ao eleitorado natalense
como o mais competente candidato porque havia salvo a cidade do “Monstro do PV”,
em 2012, além de dizer que a prefeitura estava em dia, saneada, que havia
derrotado a crise que se instalara em todo o Brasil, que tudo funcionava
perfeitamente, que os servidores recebiam em dia, que Natal era a “ilha da
maravilha” no mar tenebroso do país Brasil, blá,blá,blá. Por tudo isso, Natal
deveria apostar no continuísmo de sua gestão e em sua reeleição como prefeito
da capital do Rio Grande do Norte.
Tão logo as urnas se fecharam e o resultado foi anunciado
pelo Tribunal Regional Eleitoral, o quadro mudou radicalmente. A sociedade
natalense assistiu ao desmonte da pirotecnia eleitoreira do senhor Carlos
Eduardo Alves e todos os problemas do mundo desabaram sobre a sua administração
desastrosa e perduram até os dias atuais. Agora, o alcaide ele tem um novo discurso culpando a
crise por todos os problemas enfrentados pela cidade nos dias pós eleição
municipal. A mesma crise que ele disse ter debelado durante a campanha e que
serviu de ferramenta de ilusão para conquistar a maioria do voto natalense.
Com a eleição de uma entidade de classe é a mesma coisa. Quem
quer se perpetuar na direção da representação classista atua da mesma forma
como fez o alcaide reeleito. Essa prática se incorpora ao DNA do continuísta ao
longo dos anos em que faz da entidade um pedaço do seu patrimônio particular,
gerenciando demagogicamente e ditatorialmente a entidade de todos os associados
e não apenas de seus parentes, apadrinhados, apaniguados e mequetrefes de
plantão.
A volúpia do continuísta pelo poder, entre tantas outras
razões, tem uma em especial: o temor de que coisas pouco republicanas, éticas e
honestas praticadas ao longo de sua permanência na direção da entidade possam
ser reveladas pela renovação e, com isso, leva-los a implicações legais e morais.
A primeira junto a Justiça e a segunda no âmbito da categoria.
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