E Jackie partiu... foi para as Gerais com Fred e Coisinha

Jackie, Frederico e Coisinha
   (Marcus Ottoni – jornalista)
  E jackie partiu. Deixou meus olhos e escondeu-se na minha memória. Levou consigo Frederico, o coxinha bombado, e Coisinha, o xerife malandro do pedaço. Mas deixou Salsera, a irrequieta e estressada de muros e quintais. Assim fico eu com eles na mente e com ela no dia a dia de um novo tempo, em um novo lugar.
  Partiu para as Gerais onde a lembrança de bons tempos me assalta vez por outra me levando a morros e caieiras juvenis onde excursões pela mata rasteira do que já foi floresta atlântica e jogos de futebol amolecados fizeram minha felicidade quando ainda nem tantas marcas pelo corpo eu tinha. Mas foram e já devem estar lá, nas Gerais, entre as montanhas mineiras, os vales, as matas resistentes, os rios, córregos e poços pouco profundos, mas que de lá saiam monstros imaginários e batalhas homéricas entre piratas e soldados de qualquer rei pançudo.
  Deve estar agora, penso eu, a olhar o horizonte das Gerais cheia de esperanças de um novo tempo que deverá construir em seu novo lar. Ela, Frederico e Coisinha, trio inseparável desde os tempos da morada por detrás da Caixa Econômica, logo ali em Igapó. Lá, também viveu Jujú, que partiu para o “valhalla” das gatas além galáxias onde habitam deuses mitológicos e heróis com martelos e trovões. Foi lá, também, que nos aproximamos como gente e com seres humanos solitários, não no “Valhalla”, mas em Igapó...
  Antes, nos achamos, cada qual no seu cada qual, na ante sala da gráfica de Pedro Fausto numa manhã que se fez primeira de outras tantas. E foram tantas manhãs, tardes e noites que os dias se perderam numa conta sem fim de risos e raivas, aconchego e solidão, idas e vindas, próximos e distantes. Passaram-se os anos e meses seguidos ficamos mudos um e o outro. Curtimos juntos o dia escurecer, o amanhecer revelando o sol, a noite caindo sobre o mundo ao sul do Equador, assistimos filmes, temporadas e séries, bebemos cervejas, comemos pipocas, assamos peixes e carnes, falamos disso, daquilo, de outros assuntos, de tantos assuntos e nunca falamos de nós.
  Na verdade falamos. Quando falamos de nós, não nos entendemos e por pouco quase colocamos o cada qual de cada um a perder o rumo e se desmantelar num oceano de queixumes solitários e sem futuro, porque não havia outro futuro para nós, eu e Jackie, a não ser, ser o que somos um para o outro: almas irmãs que se gostam sem querer se ter e não se tento, se completam porque tem entre si a cumplicidade do querer bem sem querer mais nada do que o próprio bem querer de quem quer bem porque bem feito fica. Ponto...simplesmente.
  Assim vivemos por longos meses juntos sobre o mesmo teto na companhia de Frederico, Coisinha e Salsera. Éramos, e acho que ainda somos, uma família. Cada qual no seu cada qual e todos juntos num mesmo “cada qual coletivo”. Horas, dias, meses passando por nós e nós atravessando por eles como aliados de uma mesma causa que nos fazia mais fortes na medida em que descobríamos, dia a dia, que o que mais une as pessoas não é físico, material ou pontual. É a universalidade da cumplicidade solidária que aproxima, une, protege e faz nossa alma crescer cosmicamente.
  Jackie partiu... levou Frederico e Coisinha. Ficamos eu e Salsera. Ela e eles nas Gerais, eu e ela na província potiguar. Não deixam saudades e nem levam saudades. Porque saudade é sentimento de apego, de posse, de domínio, coisa que nunca tivemos, embora eu goste de colecionar “tranqueiras” e Jackie não.  Ficam na lembrança porque lembrança é desapego, consciência, liberdade. O que sempre fomos: livres e conscientes de que a vida é um constante e eterno desapego.
  Longa vida nas Gerais para Jackie, Frederico e Coisinha. Aqui, eu e Salsera abriremos muitas cervejas e riremos dos dias que virão...

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